A LIÇÃO QUE MEU PAI BOTAFOGUENSE ME DEIXOU
Por Cesar Oliveira
Em 31/10/2010, às 00:46:09
Lá pelo início dos anos 1980, eu tinha uma pequena agencia de propaganda na Travessa do Ouvidor, no Centro do Rio de Janeiro, quando a ruazinha ainda não tinha o charme da livraria que lhe tomou o nome, apenas a Laranjada Americana, que servia um refresco imbatível. Um dia, logo depois do almoço, meu velho pai botafoguense apareceu de surpresa e, depois de sentar e tomar uma água gelada, perguntou se eu poderia mandar o nosso office-boy a Nilópolis, município próximo, onde quem manda é a Beija-Flor, para levar um documento a um cliente dele. — Eu ia de trem, mas quando cheguei à Central do Brasil, me senti cansado, acho que vou ficar resfriado, então resolvi ir pra casa. — Claro, pai — respondi —, deixa aí que eu mando levar ainda hoje. Vai pra casa e descansa. Ele foi e se deitou pra nunca mais levantar. Um câncer de próstata o matou pouco mais de um mês depois, me deixando uma lição que uso para tudo na vida, sejam coisas realmente importantes, seja para casos simples: — A gente deve prestar atenção em determinados sinais que a Vida manda pra gente. Naquele caso, o sinal foi aquele momento em que meu pai se sentou à frente da minha mesa e disse “Eu ia de trem, mas quando cheguei à Central do Brasil, me senti cansado, acho que vou ficar resfriado, então resolvi ir pra casa”. A partir daquela instante mágico, nossas vidas iam mudar. A dele, a da minha mãe e irmãos, a minha. Nosso “núcleo familiar primário” começou a desfazer ali. Nunca mais estaríamos reunidos, os cinco, por aqui. Depois, é outra história. Enfim, é sempre bom estar atento a esses sinais da vida, e comecei a ficar atento a isso. Anos mais tarde, um terapeuta bioenergético me diria: — Ouça a voz da sua cabeça, Cesar. Era mais ou menos a mesma coisa, só que em linguagem psicológica. Mas é sempre bom prestar atenção em nossas intuições, pensamentos, idéias que surgem “do nada”. Ontem, assistindo Botafogo x Atlético-MG na tevê do Gato de Botas, na companhia do meu filho botafoguense e do Guime, vendo o Botafogo ser atacado sem piedade por um time desesperado com a proximidade da zona do rebaixamento, pensei com meus botões: — Uma vitória com a cara do Botafogo, depois dos 30 do segundo, um a zero, gol do Abreu, que não está jogando nada. Pra melhorar, o analista da rádio que eu estava ouvindo, flamenguista convicto, torcia desbragadamente pela derrota do Botafogo, impiedosamente apontando nossos erros, falando mal dos jogadores que falhavam e, principalmente, cobrando que o Loco Abreu fosse sacado do time. "Se o Joel quer ganhar o jogo no contra-ataque, tem que tirar o Abreu" — Ora, meu caro — respondi telepaticamente a ele. Um cara como Loco Abreu é fundamental em qualquer time que pretenda alguma coisa na vida. Precisa ser muito tacanho ou obtuso para ignorar a importância tática, estratégica, moral e espiritual do Loco Abreu pro atual time do Botafogo. O gringo tem um caráter do C*! Enfim, enchi o saco e troquei pra outra rádio, onde o locutor tricolor não torcida, narrava. Mais entusiasmado que o locutor botafoguense da coirmã. E eu repetia pros meus acompanhantes, em meio àquela pressão desesperada dos atleticanos à beira do rebaixamento: vai ser 1x0, gol do Abreu. – Deus te ouça, disseram em coro. Enfim, deu no que deu. A gente, mais rodado, tá careca de saber como é bom jogar na casa de um adversário desesperado com uma torcida querendo gol, sangue, o seu rabo num espetinho. Bastou um contra-ataque em que a generosidade do jogador politizado, inteligente, "de grupo" (como adoram os jornalistas) se fez presente pra gente desestabilizar totalmente o Atlético. Lá atrás, Jefferson mostrava aos babacas de plantão por que é convocado para a Seleção. E isso com uma defesa que estava apavorada, e um meio de campo que, hoje, jogou mal – exceção ao Marcelo Mattos, que é realmente um leão. Foi bom pro coração, pra cabeça, pra alegrar o domingo e etc e tal e coisa. Uma vitória que nos deixa ali-ali, chegando perto e incomodando. Não esquecendo que ano passado o Fluminense ia cair e o Flamengo jamais seria campeão, vou confiar até o último instante. E o que o meu pai tem a ver com isso? É que eu ainda acho que dá. Ontem, vi a vitória com o pensamento no meu velho pai botafoguense e o evento da sua morte, que me fez atentar mais para a Vida. Aquela vitória de ontem pode ter sido mais importante do que parece. Se o Botafogo for campeão, a vitória de ontem há de ter sido fundamental pro título. Foi épica e marcante. Não uma vitória qualquer. Vamos confiar e comparecer, na maior quantidade possível, na quarta-feira ao Engenhão. Vamos empurrar o Botafogo mais pra cima e secar os adversários. Eu ainda acho que dá. Mas sem Lucio Flavio. Saudações Botafoguenses, Cesar Oliveira PS-1: Toró é o cacete! A diretoria do Botafogo não tem o direito de pensar em contratar um energúmeno flamenguista que nem o Flamengo quer mais, que agride crianças-bandeirinhas fora do gramado, que é violento e um dia já chutou um jogador do Botafogo. PS-2: Depois do feriado, vou publicar aqui uma colaboração que me foi mandada por um leitor botafoguense, comemorando os 77 anos de nascimento do maior jogador de futebol de todos os tempos. PS-3: Desde a Copa do Mundo, fico me perguntando quando o Loco Abreu faria outro gol de cavadinha de pênalti. Como ele é muito mais inteligente do que eu, me respondeu hoje, com categoria. Grande Gringo! |