Cricrizada Amiga:

Já tem um bocado de tempo que não me arvoro sequer a ver a minha velha Mangueira, a Estação Primeira de Cartola, Nélson, Guilherme, Padeirinho e outros – muitos – bambas, cracaços do samba verdadeiro.

Aprendi isso com meu velho pai, mangueirense e botafoguense. Ficávamos jogando cartas, enganando o sono, até que a escola antes da Mangueira entrasse na avenida. Aí, íamos para a Presidente Vargas – sim, eu ainda vi o desfile das escolas de samba na Presidente Vargas, sem o gigantismo de hoje.

Era possível ver as escolas sentado nas pequenas e toscas arquibancadas montadas da Avenida Rio Branco até depois da Avenida Passos, quando então o povo, ordeiramente, ficava atrás de uma grossa corda que era colocada para demarcar a área dos desfiles.

Assim, vi coisas maravilhosas, além da minha Mangueira. Vi Paulinho da Viola aquecer a Portela para “Foi um rio que passou em minha vida”, vi – boquiaberto – o famoso desfile de Pamplona e Arlindo para o Salgueiro, vi o Império Serrano chegar sambando e cantando na Praça da República, no que seria a dispersão, sem nenhum instrumento.

Bons tempos aqueles... as pessoas faziam as coisas pelo dinheiro, sim, mas com amor e respeito.

Essa associação do samba com os contraventores que a juíza Botafoguense Denise Frossard meteu na cadeia me fez perder o prazer e o gosto de ver as escolas de samba. Quando eles assumiram o show, virou palhaçada.

Considero a gestão do contraventor campeão uma mácula na história do Botafogo.

Parece, infelizmente, que o futebol está se encaminhando para isso. Uma palhaçada de gente de péssimo caráter, que trabalha apenas pelo dinheiro que recebe, sem devolver ao seu contratador a necessária contrapartida, isto é, um trabalho decentemente realizado.

Assim é esse time do Botafogo de 2009.

Com honrosas exceções, um bando de pessoas de péssimo caráter e má índole, a ponto de “entregar” um jogo para o Barueri em represália e um dia a mais de concentração.

Hoje, contra o Atlético Paranaense, o Botafogo fez uma partida ridícula. Um bando de incompetentes, técnica e taticamente, moral e fisicamente, jogando a bola de um lado para o outro sem coordenação, sem planejamento, sem nada.

A PREVISÃO DOS JORNALISTAS
Quando o Campeonato começou, uma enquete dava conta de que muitos jornalistas, muitos mesmo, consideram o Flamengo candidato ao título e o Botafogo, candidato ao rebaixamento.

Fiquei puto. Afinal, apesar de ter, mais uma vez, amarelado numa final contra o Flamengo, o Botafogo era o vice. Como, então, o campeão do Campeonato Carioca era candidato ao título e o vice-campeão era candidato ao rebaixamento?

Palhaçada de jornalista-torcedor? – pensei com meus zíperes e velcros.

Apesar de considerar, hoje, que jornalistas esportivos podem dizer besteiras como qualquer mortal comum, a ponto de sacramentarem o rebaixamento do Fluminense, eles – infelizmente – parecem ter acertado nas previsões sobre o Botafogo.

DE CALCULADORA EM PUNHO

Nunca acreditei que futebol se resolva com contas. Sempre que um time depende de cálculos matemáticos para isso e aquilo, eu acho que já era.

É o nosso caso, hoje, dia 29. Só nos livraremos com uma vitória improvável sobre o Palmeiras, e ainda vamos depender do resultado dos outros.

Eu, não acredito mais. Mas, há algumas semanas, o Fluminense precisava ganhar tudo para se livrar do rebaixamento, já sacramentado por todos nós.

Mas aí o Betofoguense me lembrou um fato importante: no Tricolor das Laranjeiras, o técnico pegou as barangas e os FDPs e encostou todos no banco, alguns nem no banco mais sentam. O resultado é o que se vê.

Bota a garotada pra jogar! – reclamo eu. Pelo menos, a gente sabe que eles têm uma vida pela frente, um futuro a disputar.

Qual o futuro de Reinaldo no Botafogo? Com suas seguidas contusões e enorme inapetência para jogar com aplicação e afinco, o que esperar de um cara que vive contundido?

E Lucio Flavio, que tinha sido colocado para treinar à parte no Santos? Que tira o pé das divididas – fato tantas vezes apontado pelo comentarista Felipe Cardoso, da Globo/CBN – e se esconde quando o jogo está complicado? Que só aparece em jogadas de bola parada, marca poucos gols e raramente é decisivo num jogo?

Por que o louco Estevam Soares inventou hoje um Ricardinho que eu nem lembrava mais que existia, deixando outros jogadores que vinham jogando no banco?

Vejam o replay dos gols que o Botafogo tem tomado, hoje e os passados. Quando é bola alçada na área, a gente NUNCA vê o tal de Juninho disputando a bola na cabeça. Ele não sobe, nunca está bem colocado, se omite completamente da partida, só aparece nas faltas cobradas, mas não é para isso que lhe pagam.

Enfim, esse grupo do Botafogo é totalmente inconfiável. Fora Leandro Guerreiro e Jefferson, eu não ficaria com ninguém.

BOTA A GAROTADA PRA JOGAR!

Considerando que não acredito em milagres, e nem supersticioso eu sou, acho que estamos na Série B em 2010. E confesso que acho que não vamos repetir a façanha de Corinthians e Vasco, voltando como campeões. Pode ser que a gente demore a voltar. Ou não volte tão cedo.

Na Segundona, a grana é menor. A exposição, também. Não acho que a torcida do Botafogo vá apoiar o time como as torcidas de Vasco e Fluminense apoiaram seus times.

Nós – eu, pelo menos – estou com o saco cheio de confiar em jogadores inconfiáveis. Nas finais do Carioca, ao lado do Dr. Cottas na arquibancada do Maracanã, apontei para ele a suspeitíssima atuação do atacante flamengista Reinaldo, que não finalizou – por duas ou três vezes – contra-ataques mortais que o time empreendeu.

Da mesma forma, creio que João Saldanha jamais permitiria que um zagueiro marcasse dois gols contra em finais e continuasse empregado no clube.

CHAMEM OS CAMPEÕES PARA AJUDAR

Já cansei de pleitear nesta coluna que os velhos craques do Botafogo fossem chamados a colaborar.

Se os zagueiros não sabem se posicionar na área, deixem o velho Sebastião Leônidas ensinar a eles como é que se faz. Se os “maestros” desafinam, deixem que Mendonça, Afonsinho e Nei Conceição mostrem a eles como deve ser feito. Se os atacantes chutam mal, permitam que Jairzinho, Roberto Miranda e Nilson Dias ensinem como é que se deve fazer.

Nas reuniões da Confraria, os craques do passado, ainda incensados e homenageados por nós, lamentam jamais serem chamados pelo Botafogo para ajudar. Ou quando vão ajudar, encontram tantos obstáculos “do mal”, que vão embora para não macular sua linda história de amor com o Botafogo.

ALGO DE PODRE NO GENERALATO

Bem sei que o Botafogo, com muitos clubes brasileiros, é hoje refém de empresários inescrupulosos. Um deles, flamenguista declarado, que interesse teria em beneficiar o Botafogo?

Mas precisa mesmo viver de Fahel, Léo Silva, Castillo, Émerson, Túlio Souza, Fuska, argentinos com obesidade mórbida, flamenguistas sem lugar no seu time do coração, zagueiros baixinhos e que se posicionam mal?

De que serve pagar mais de R$100 mil por mês a Reinaldo e André Lima se eles nada produzem para a equipe?

É preciso reformular tudo.

Investir pra valer na base e voltar a criar craques com o nosso DNA. Devolver os “próprios” que não precisamos, Caio Martins inclusive. Fazer o Engenhão gerar receita para o Botafogo e não para terceiros. Não permitir que gente que não seja botafoguense se imiscua no clube, seja lá por que motivo for. São lobos em pele de cordeiro, não querem o nosso bem.

Se João Saldanha estivesse vivo, eles não estariam lá. Seriam corridos a pontapés na bunda e, se preciso, a tiros.

ESTOU CANSADO DE SOFRER

Um amigo me disse que “sofremos muito”. Respondi que não sofro mais. Ser Botafoguense acaba virando um calo, e a gente nem sente mais a dor.

Se nos acariciam com uma bela vitória, um título, a gente gosta. Mas a dor dói mais na garotada e nos jovens, que não viram o que eu vi, já que estou quase batendo nos 60.

A criançada não vai querer ir à escola, porque vai ser muito, muito sacaneada pela Urubuzada, ainda mais se eles – como tudo indica – forem campeões. Nem os tricolores vão livrar a cara de nossas crianças.

E, confesso, é só neles que eu penso.

E penso no que disse outro dia o Vilarinho, aqui neste CANAL BOTAFOGO, quando apontava um inevitável envelhecimento da torcida do Botafogo, se não tivéssemos, a curto prazo, um plano para voltar a ganhar títulos.

Uma recente pesquisa analisou as torcidas. A do Botafogo é “velha”. Que criança torce para perdedor? Que garotada vai vestir, com orgulho, a camisa de um time espancado seguidamente pelo “mais popular”. Em que craque nossos meninos vão se mirar?

Nos incompetentes? Nos omissos? Nos covardes? Nos safados?

O meu padrão, o padrão dos mais velhos, do Porto, do Mendes, do Sargentelli, foi alto, bem alto. Aprendi a gostar do Botafogo de 1957, com o artilheiro que metia cinco gols numa final. Cresci ouvindo falar de outro que tinha uma porrada tão forte que derrubava barreiras. De um zagueiro que jogava tanto que virou Enciclopédia. De maestros de verdade, de cujas batutas e chuteiras saíam arte e títulos. De atacantes corajosos, que marcavam gols decisivos, sem medo das botinas das defesas adversárias. De um gênio que muitos julgaram sobre-humano, de tanto que fez, superando até o físico torto.

Nenhum deles foi covarde. Nenhum deles foi fanfarrão. Nenhum deles foi safado. Todos honraram uma camisa listrada em preto e branca que aprendi, aprendemos, a amar.

Hoje, os covardes vestem branco. Ou preto.

Inconscientemente, talvez, os dirigentes preservam nossos meninos de ligar esse bando de charlatões à gloriosa e vitoriosa camisa do Botafogo de Futebol e Regatas.

Menos mal.

Saudações Botafoguenses,

Cesar Oliveira