CONSERTANDO O BOTAFOGO - CAPÍTULO I - O CORPO SOCIAL E A GESTÃO DO CLUBE
Por Bernardo Santoro
Em 21/12/2009, às 17:51:44
1.1 – INTRODUÇÃO
O Botafogo é um dos clubes esportivos mais importantes do Brasil. Atingiu seu auge na década de 60 e, desde então, em virtude de administrações mais ou menos competentes, mas invariavelmente amadoras, acabou por perder terreno frente a outros clubes tradicionais, além de acumular dívidas e ver seu patrimônio crescer muito timidamente (em certos momentos, inclusive, chegara a diminuir). A impressão que fica é a de que o Botafogo não acompanhou a evolução do futebol brasileiro. Embora feitas algumas reformas no Estatuto, continuamos a ter uma estrutura arcaica e de forte cunho personalista (na figura do presidente) e amadora. A proposta do presente trabalho é tentar superar o atual estado de coisas. Para isso, analisaremos (i) a atual estrutura de gestão e do corpo social do Botafogo e (ii) as propostas mais ouvidas e lidas nos encontros e fóruns sobre Botafogo. Por fim, (iii) traremos uma solução alternativa e que nos parece ser a única solução real. 1.2 – O BOTAFOGO ATUAL O Botafogo atual é regido por um Estatuto novo, aprovado no fim de 2008. Infelizmente, essa reforma não conseguiu efetivamente implementar os dois princípios que serão a salvação do clube: (i) sua democratização e (ii) a profissionalização do futebol. Por fim, ainda criou a estranha figura do Conselho Consultivo. Para que todos possam entender a realidade do clube, vamos esclarecer e comentar acerca do corpo social e da gestão do Botafogo sob a égide do novo Estatuto. 1.2.1 – O CORPO SOCIAL ATUAL O atual corpo social do clube é formado por sócios (i) titulados; (ii) proprietários; (iii) contribuintes e (iv) atletas. Os titulados são os (i) grandes beneméritos, (ii) beneméritos, (iii) eméritos e (iv) honorários. Os dois primeiros têm cadeira no Conselho Deliberativo. Os três primeiros são também sócios-proprietários do clube Os proprietários são os que possuem um título de sócio do clube, ou seja, uma fração ideal do Botafogo efetivamente pertence ao sócio-proprietário do clube. Pagam uma quantia mensal para manutenção do clube e dos seus direitos de sócio. Os sócios-contribuintes, que praticamente não existem hoje por falta de regulamentação, são divididos em (i) efetivos, (ii) menores e (iii) torcedores. Efetivos são os que, tendo mais de 16 anos, apenas pagariam uma quantia de jóia (matrícula) e uma mensalidade, podendo então usufruir do clube, além de terem direito a votar e serem votados nas instâncias do clube. Menores teriam os mesmos direitos e obrigações dos efetivos, mas por serem menores não podem votar ou serem votados. Sócios-contribuintes torcedores seriam os botafoguenses que moram fora do Rio que, ao pagarem uma mensalidade, poderiam, por poucas vezes no mês, frequentar o clube. Pelo estatuto, esses sócios-contribuintes torcedores também não teriam direito a votar e serem votados nas instâncias do clube. Sócios atletas são os atletas do clube e não podem votar e serem votados. 1.2.2 – A GESTÃO ATUAL O Botafogo tem os seguintes órgãos de poder: (i) a Assembléia Geral; (ii) o Conselho Diretor; (iii) O Conselho Deliberativo; (iv) o Conselho Fiscal e (v) A Junta de Julgamento e Recursos. Além disso, possui uma nova instância consultiva, o Conselho Consultivo. Por fim, temos a misteriosa Companhia Botafogo. A Assembléia Geral é a instância em que todos os sócios proprietários e contribuintes efetivos podem votar e serem votados para as instâncias do clube. Também reformam o Estatuto, além de outras competências, se reunindo ordinariamente de três em três anos. O Conselho Diretor é formado pelo Presidente do Clube, seu Vice Geral e seus oito Vices setoriais (administrativo, finanças, patrimônio, jurídico, futebol, remo, esportes gerais e comunicação). São os administradores do clube. O Conselho Deliberativo é formado por 60 beneméritos e 140 sócios-proprietários e tem diversas funções fiscalizatórias e autorizativas, além de aprovar o orçamento e as contas do Conselho Diretor. O Conselho Fiscal emite pareceres sobre orçamento e contas, além de fiscalizar a execução do orçamento. A Junta de Julgamento e Recursos é a instância que julga as infrações e aplica penalidades aos sócios. O novo Conselho Consultivo é formado por ex-presidentes, grandes beneméritos e beneméritos e tem como objetivo emitir pareceres sempre que solicitados. A idéia inicial da Companhia Botafogo era, na medida do possível, tentar profissionalizar a gestão do futebol e da marca Botafogo. A Companhia efetivamente nunca produziu nenhum efeito prático, mas, por estar em dia com suas obrigações tributárias, serviu de instrumento para a aquisição do Direito de Exploração do Engenhão. 1.2.2.1 – COMENTÁRIOS AO ATUAL MODELO O atual modelo de gestão do clube é amador e confuso. O clube ainda é refém de ex-dirigentes, hoje beneméritos, que, embora não se discuta o grande amor e dedicação dos mesmos ao Botafogo ao longo de décadas, têm uma visão romântica do futebol que não se coaduna com o futebol moderno e que, infelizmente, levou o Botafogo à situação de penúria que se encontra hoje. O título de sócio-proprietário é caro demais para a maioria dos botafoguenses e o programa de sócio-contribuinte não foi regulamentado até hoje. Parece haver ainda, na prática, uma concentração desmedida de poder nas mãos do Conselho Diretor, mais precisamente nas mãos do Presidente do clube. O Conselho Deliberativo é a maior de todas as bagunças. Até a reforma do Estatuto era pior, pois não havia um limite nas concessões de benemerência e, por isso, essas titulações eram moeda de barganha política. O novo Estatuto limitou em 60 o número de beneméritos, mas ainda temos cerca de 100 beneméritos, em virtude de direito adquirido, o que incha o atual Conselho de beneméritos e esvazia a força dos eleitos. Destaca-se que, durante os seis anos da gestão Bebeto, não houve indicações de benemerência. O fato de os conselheiros eleitos formarem chapa com os candidatos a presidência limita substancialmente uma eventual vontade política de se investigar denúncias e limitar o poder do Presidente. O recém criado Conselho Consultivo, limitado aos ex-presidentes e beneméritos, ao invés de democratizar o Botafogo, serve para reafirmar o poder dessa oligarquia no clube. Não é à toa que, nesse primeiro ano de vigência do novo Estatuto, o atual Presidente não tenha regulamentado o democrático programa de sócio-contribuinte, mas tenha regulamentado e criado o Conselho Consultivo, que, diga-se, tem como primeiro presidente o ex-Presidente José Luis Rolim, que foi um dos piores presidentes da história do clube (gestão 97-99). No que tange a receitas e despesas, não há auto-suficiência dos setores do clube. O futebol acaba sustentando todo o clube, inclusive os esportes amadores e o clube social. As receitas são concentradas e depois repartidas pela vice-Presidência Financeira. As despesas são executadas setorialmente. O futebol é o mais amador possível. É comandado por um burocrata dono de cartório e por um senhor que já rebaixou um clube pequeno e quase rebaixou Botafogo e Flamengo. Volta e meia “colaboradores” amadores são chamados para tentar ajudar. Não é à toa que o Botafogo não vai pra frente. Por fim, vem a ridícula figura da Companhia Botafogo. Criada para gerir profissionalmente a marca Botafogo, entre outras funções menores, acabou tendo como finalidade burlar a Receita Federal para conseguirmos receber dinheiro federal da Liquigás (clubes devedores não podem, por lei, receber patrocínios federais). A figura jurídica para isso é “simulação”, e durante os últimos anos as diretorias do Botafogo praticaram verdadeiro crime tributário. Depois, com a concessão do Engenhão, pensou-se que finalmente a Cia. Botafogo seria usada para outro fim que não a prática de crimes, mas seus dirigentes falharam na gestão do Engenhão e, para melhorar a situação, os dirigentes praticaram verdadeira subconcessão do contrato de gestão do Engenhão para a Pepira, o que é vedado pela Lei 8.666/93. Sem contar na verdadeira obscuridade que é a gestão dessa Companhia. Como a lei veda Companhias com apenas um sócio, isso significa que o Botafogo tem sócios nessa empresa. Quem são esses sócios? Qual a receita dessa empresa? Quais são as despesas? Quanto ganha o seu atual diretor, Sergio Landau? São perguntas que não tem resposta. São lambanças atrás de lambanças administrativas e desordem, seja dentro do clube, seja na Cia. Botafogo. 1.3 – AS SOLUÇÕES APRESENTADAS PELAS CORRENTES POLÍTICAS DO CLUBE Mesmo a atual diretoria do clube sabe que as coisas não vão bem, e por isso tentam, de alguma maneira, ainda que tosca, remediar essa situação. Vou apresentar e comentar as soluções dadas pela atual diretoria, por alguma parcela da torcida e pela oposição. 1.3.1 – A SOLUÇÃO ATUAL: PARCERIAS COM O EMPRESARIADO (DIRETORIA DO BOTAFOGO) A diretoria do Botafogo defende e aplica a idéia de que é a partir da parceria com empresários, botafoguenses ou não, que o Botafogo terá capital de giro e força para investir. Os recursos aportados até o momento, contudo, não supriram as necessidades do clube. Não houve investimento significativo nas divisões de base e o programa de sócio-torcedor foi esvaziado. Um novo programa será lançado, mas sem contemplar o direito do sócio-torcedor a votar e ser votado. O programa de sócio-contribuinte, que consta no Estatuto, também não foi regulamentado até o momento. A parceria com empresários definitivamente não é a solução. Na verdade funciona, hoje, como um paliativo para que o clube, literalmente, não feche o futebol. Essa parceria não é de todo nociva, desde que seja apenas um projeto suplementar de outro maior, como é o caso do Internacional de Porto Alegre, cujo carro-chefe da gestão é o programa de sócio-torcedor, suplementado pela parceria com o Grupo Sonda. Também não se vê no clube um choque de gestão. As práticas políticas são as mesmas de 50 anos atrás. Não há abertura democrática e o Botafogo continua a ter seus destinos comandados por dois mil sócios ao invés de três milhões e meio de torcedores. 1.3.2 – A SOLUÇÃO INGLESA: O MESSIAS (PARCELA SONHADORA DA TORCIDA) Boa parte da torcida sonha com a transformação de todo o clube em um clube-empresa e que o mesmo seja entregue a grandes empresários brasileiros comprovadamente botafoguenses, como Edir Macedo e Eike Batista, nos moldes dos clubes ingleses, extremamente abastados. Essa solução não me parece ser a mais correta, ou, ainda, a mais eficiente. O primeiro equívoco dessa solução é supor que um grande empresário botafoguense vá querer comprar uma massa falida de centenas de milhões de reais, como é hoje o Botafogo. Segundo os dados de 2008, a dívida do clube é hoje de duzentos e quarenta milhões de reais, e é quase certo que o patrimônio do Botafogo não chegue à metade dessa dívida, que só tende a crescer. Um empresário é um grande empresário porque aplica seu dinheiro onde sua razão manda, e não sua emoção. Nesse diapasão, o retorno financeiro do futebol no Brasil não é o mesmo do futebol inglês, por razões até de certa forma óbvias, como: (i) o fato dos clubes brasileiros não disputarem a Liga dos Campeões da Europa; (ii) a economia brasileira não ser igual à inglesa; (iii) os contratos de televisão serem 90% inferiores; entre outros. Por outro lado, a torcida fica alijada do poder decisório do clube e perde empatia com o mesmo, a não ser que investimentos vultosos fossem feitos. Essa solução me parece, por tudo isso, abstrata demais. 1.3.3 – A SOLUÇÃO DA MODA: O PROGRAMA SÓCIO-TORCEDOR (MCR E OUTRAS CORRENTES) Em virtude do programa de sócio-torcedor do Internacional ter sido um estrondoso sucesso, a solução da moda parece ser essa. Qualquer torcedor politicamente correto adota essa ideia sem pestanejar, e é realmente fantástica, o que não significa que não possa ser aperfeiçoada. Vou me preocupar apenas em analisar o programa de sócio-torcedor do Internacional, por ser o mais completo, democrático e bem sucedido, sem me preocupar com outros programas, alguns até muito diferentes daquele. O programa colorado, que estatutariamente se chama sócio-contribuinte (assim como talvez fosse no Botafogo), tem duas modalidades: (i) a de 55 reais, que dá direito a votar e ser votado para as instâncias do clube, lugar gratuito no Beira-Rio e a frequentar o clube social; (ii) a de 23 reais, que dá direito a votar e ser votado para as instâncias do clube, a frequentar o clube social e desconto de 50% no valor do ingresso, além de serem disponibilizados ingressos para venda aos sócios antes de serem vendidos aos torcedores não-sócios. Em virtude do sucesso do programa, não há mais vagas para o programa que dá ingressos gratuitos ao torcedor colorado. O Inter possui hoje cem mil sócios. É evidente o sucesso do programa, que resultou na democratização do clube e em aumento significativo das receitas do clube. O programa, contudo, é passível de criticas. A primeira crítica é o eventual prejuízo do sócio-proprietário, que foi minorada com a concessão de ingressos gratuitos a essa modalidade. A segunda e principal crítica é que ela não acaba com um grave problema que também é do Botafogo: como sócio-torcedor lá também dá direito a frequentar o clube, a grande maioria dos torcedores, que na verdade só gostariam de contribuir com o futebol, acaba por ter boa parte do seu dinheiro desviado para o lado social do clube. Esse seria um problema ainda mais grave para o Botafogo, pois a torcida alvinegra é maior fora do Estado do Rio do que dentro dele (segundo pesquisa do IBOPE de 2004, 60% dos torcedores do Botafogo residem fora do Estado do Rio), ao contrário da torcida colorada, predominantemente gaúcha. Trocando em miúdos, o sucesso do programa do Internacional está apenas na grande arrecadação de receita, contando com péssimos resultados na execução das despesas. Transportando essa realidade para o Botafogo, algumas questões se impõem. A primeira delas é que o programa de sócio-torcedor do Botafogo não resolveria o problema dos constantes prejuízos que o clube social gera mensalmente, apenas o mascararia ainda mais com a injeção de maiores quantias do futebol para o social. Torcedores botafoguenses de Minas Gerais simplesmente não têm o menor interesse em ver uma contribuição sua indo para a reforma da sauna de General Severiano. A democratização do Botafogo tem, necessariamente, que andar de mãos dadas com a auto-suficiência dos setores sociais e de futebol, coisa que um programa de sócio-torcedor nesses termos não contemplaria. E pior, botafoguenses de fora do país, que não tem o menor interesse nos assuntos do Botafogo com clube social e nem conhecimento de causa para tal, já que a maioria passa toda uma vida sem ter visitado General Severiano e sem saber suas necessidades e carências, teriam ingerência sobre assuntos internos do clube social do Botafogo, o que é um absurdo. Os torcedores de fora do Estado do Rio PODEM E DEVEM ter total ingerência sobre o futebol do clube. Mas como fazer essa distinção e aperfeiçoar as gestões do futebol e do clube social? Vamos consertar o Botafogo? 1.4 – CONSERTANDO O CORPO SOCIAL E A GESTÃO DO BOTAFOGO Os três grandes postulados a serem aplicados no conserto do Botafogo são (i) a separação entre o clube social e o futebol, (ii) com gestão democrática e (iii) independência econômica de ambos. A partir dessas considerações, cheguei à conclusão de que somente com o futebol sendo gerido por uma nova pessoa jurídica, uma NOVA COMPANHIA BOTAFOGO, com o Botafogo de Futebol e Regatas sendo seu dono, mas controlado pela TORCIDA DO BOTAFOGO e gerenciado por DIRETORES PROFISSIONAIS, podemos organizar a bagunça. Já o clube Botafogo de Futebol e Regatas passaria a gerir apenas seu espaço social e os esportes amadores. Essa ideia deve ser melhor explicada. 1.4.1 – A NOVA COMPANHIA BOTAFOGO A nova Companhia Botafogo, como toda empresa, funcionaria com os seguintes órgãos: (i) Diretoria, (ii) Conselho Administrativo, (iii) Conselho Fiscal e (iv) Assembléia Geral. Agora vem o grande salto de gestão: TODOS ESSES ÓRGÃOS SERIAM OCUPADOS POR SÓCIO-TORCEDORES. Como a nova Companhia Botafogo só cuidaria do futebol, todos os sócios-torcedores botafoguenses de todo o país teriam certeza absoluta que seu dinheiro iria única e exclusivamente para o futebol do clube, afinal, são pessoas jurídicas distintas e orçamentos distintos. Para se candidatar a algum cargo nessa nova Companhia, somente sendo sócio-torcedor. Nesse caso, seria um programa igual ao do Internacional, mas voltado exclusivamente para o futebol, com duas modalidades: uma maior que fornecesse também no pacote ingressos para os jogos, e uma menor apenas com direito a votar e ser votado. Essa nova Companhia Botafogo também tomaria conta de tudo relacionado ao futebol, ou seja, não somente o futebol profissional, mas também o futebol de base, os centros de treinamento do futebol de base e profissional (que seria fora de General Severiano, dentro da filosofia de separar o social do futebol), bem como o Engenhão. Ou seja, os torcedores do Botafogo, que sustentam o futebol do Botafogo, passariam a tomar conta do futebol e somente do futebol do Botafogo, sem sustentar o clube social. As eleições para os cargos da Companhia seriam feitas nacionalmente, com apoio dos Tribunais Regionais Eleitorais, que disponibilizam programas e urnas eletrônicas para tal. Que tal você, torcedor alvinegro do Norte do país, votando na sua cidade para o cargo de Diretor do Futebol do Botafogo, e, quem sabe, até mesmo em você para algum conselho? Não seria um sonho? Pois esse sonho é possível. Basta termos a vontade política de revolucionar. Esse tipo de gestão, invariavelmente, teria de ser limpa e aberta, pois quem sustenta o futebol, o torcedor, seria o mesmo que votaria os orçamentos anuais. Nesse sentido ainda da gestão democrática, a votação para os Conselhos Administrativo e Fiscal seriam sempre proporcionais, ou seja, se um grupo político ganhasse as eleições com 40% dos votos, teria apenas 40% das cadeiras nos conselhos. O segundo colocado, com 25%, teria 25% das cadeiras, e assim por diante. O grupo majoritário que ganhasse o Conselho Diretor seria sempre fiscalizado de perto e não teria vida fácil nos outros conselhos. Já a gerência do futebol, a parte técnica, ao invés de ser gerida por burocratas donos de cartório, seria gerida prioritariamente por profissionais competentes e identificados com o clube, como Jairzinho, Paulo Cesar, entre outros, resgatando a identidade do clube e do torcedor. A gerência econômica e administrativa ficaria a cargo de bons profissionais e independentes da política do clube, e não Goods da vida que chamam gestões anteriores das quais ele mesmo participou de incompetentes, o que é sinal de clara incompetência dele próprio. Com essa organização moderna, democrática e inteligente do clube, o Botafogo não tem como não crescer. 1.4.2 – O NOVO BOTAFOGO COMO CLUBE SOCIAL Já o novo Botafogo como clube social teria de buscar receitas independentes do futebol para crescer. A democratização aqui é essencial também. Os grandes empresários da história nunca foram aqueles que ganharam muito em cima de poucos consumidores, mas sim os que ganharam pouco em milhões de consumidores, como Henry Ford, por exemplo, que escolheu ganhar pouco dinheiro em cima de cada carro, vendendo milhões de unidades, do que ganhar muito em cima da venda de poucos carros. No Botafogo esse raciocínio não é observado. Aqui preferimos ganhar 50 reais em cima de 1000 sócios do que ganhar 20 em cima de 20.000 sócios. Preferimos cobrar o proibitivo preço de dois mil e quatrocentos reais por título do que termos milhares de botafoguenses frequentando a sede. Isso é um grande equívoco. Com a mudança de mentalidade, podemos transformar General Severiano em um dos maiores pólos sócio-esportivos do Rio de Janeiro. Basta para isso vendermos os títulos do clube a preços simbólicos, cobrando preços mais razoáveis de mensalidade e dando vida social ao clube novamente. Em conjunto, devemos explorar com mais eficiência o patrimônio que ficaria com o clube Botafogo, tais como General Severiano, o Mourisco Mar e Sacopã. Mas essa parte será exaustivamente analisada no próximo capítulo da série. 1.4.3 – CONCLUSÃO Com esse novo modelo de gestão, separando o futebol do clube social, e democratizando ambos, o torcedor do Botafogo que quisesse contribuir financeiramente e participar da gestão apenas do futebol teria totais condições de fazê-lo, tendo livre acesso às contas do futebol do clube e podendo influir diretamente nas prioridades e políticas do mesmo. Essa é a principal demanda do botafoguense de fora do Rio de Janeiro. Ele merece ser ouvido e respeitado, com seu dinheiro aplicado apenas no futebol, a sua grande paixão. Já os botafoguenses que quisessem apenas participar da vida social do clube, também poderiam, revitalizando General Severiano e dando ao Botafogo cara de clube novamente. Por fim, os que quisessem participar tanto da vida social quanto do futebol teriam também totais condições de fazê-lo. Tudo isso de maneira racional, com corpo social, orçamentos, receitas e despesas distintas para as duas modalidades, dando ao Botafogo o salto de qualidade gerencial que nós merecemos que ele tenha, para um futuro de tantas glórias quanto as que tivemos outrora, ou quem sabe mais. |