CONSERTANDO O BOTAFOGO – CAPÍTULO IV – FUTEBOL PROFISSIONAL
Por Bernardo Santoro
Em 11/01/2010, às 17:12:03
4.1 – INTRODUÇÃO

Esse é, sem dúvida, o capítulo mais controverso de toda a série. Não pelo fato das ideias aqui expostas serem revolucionárias, mas simplesmente porque nada é mais paixão do que a razão de ser deste clube, o futebol profissional.

Eu digo isso especialmente porque, neste capítulo, assim como em todos os outros, em momento algum dispensaremos o princípio da responsabilidade administrativa, coisa que nem todos os torcedores compreendem ou aprovam.

Sem fugir do modus operandi da série, descreveremos (i) como funciona o futebol profissional do Botafogo hoje, (ii) analisaremos as propostas da diretoria e, por fim, (iii) tentaremos consertar o futebol profissional do Botafogo.

4.2 – O FUTEBOL PROFISSIONAL ATUAL

A crise do futebol atual do Botafogo vem dos últimos 40 anos, basicamente desde 73, quando começou nossa derrocada do pelotão de frente do futebol brasileiro. Para não desvincular os atuais problemas do clube dos erros do passado, é importante traçarmos um histórico, pois conhecendo o passado é que se entende o presente e se planeja o futuro.

Após, tentaremos explicar as atuais filosofias de montagem do time e de treinamento, o modelo organizacional atual, e o lugar onde se pratica o treinamento dos profissionais.

4.2.1 - HISTÓRICO

O Botafogo sempre teve uma aura de amadorismo, que certamente fez parte de seu charme e personalidade. Enquanto o futebol brasileiro foi eminentemente amador, estivemos no pelotão de frente dos clubes brasileiros. Garimpávamos talentos na praia e na base e eles explodiam rapidamente. Botafoguenses abastados e passionais aplicavam dinheiro próprio para trazer craques de outros clubes para posições-chave, como foi o caso da vinda de Didi, Zagallo e, posteriormente, Gérson.

No final da década de 60 até meados da década de 70 houve uma mudança de paradigma no modo como se tratava futebol, com os salários dos jogadores crescendo e com o governo passando a intervir na relação trabalhista entre clube e jogador. Essa mudança ocorreu definitivamente com a lei 6.354/76, que regulamentou definitivamente a profissão de jogador de futebol (essa lei está praticamente toda revogada hoje pela Lei Pelé).

O Botafogo amador não se adaptou à era de profissionalismo do mesmo jeito que outros clubes, notadamente o Flamengo de Márcio Braga (que primeiro mandato, de 77 a 79, fundou as bases do extremamente bem sucedido projeto de engrandecimento do Flamengo com base nos novos conceitos profissionais, atrelado ao apoio de grandes setores econômicos e de mídia). Apenas como recordação, até 1980 o Flamengo era o único clube carioca sem nenhum título nacional de expressão, mas um trabalho bem-feito sempre pode mudar tudo.

Já a falta de compromisso dos dirigentes do Botafogo em buscar fontes alternativas de receita, atrelado ao descompromisso com a modernização do futebol de base, resultou em uma grave crise econômica que levou o clube, inclusive, a perder a sua sede de General Severiano, assim como a sua identidade.

Esse panorama de crise só foi atenuado com a ascensão de Emil Pinheiro a frente do comando do clube, primeiro como homem de confiança do ex-Presidente Althemar Dutra e depois como Presidente, no triênio 91-92-93.

Emil Pinheiro era um bicheiro e punha dinheiro do próprio bolso no clube. O que ocorreu, de fato, foi um resgate da política das décadas de 50 e 60, só que com um Bebiano, um Toniato pós-moderno, usando dinheiro proveniente de contravenção, ao contrário dos diretores-mecenas de outrora, que possuíam fontes confiáveis de recursos.

Mais do que o problema de ser ou não o novo dinheiro fruto de contravenção reside novamente o problema da falta de compromisso do Botafogo com modelos profissionais de gestão, arrecadação de receitas e execução de despesas.

Com a falta de compromisso do clube com o profissionalismo, quando o resultado almejado não foi cumprido (no caso, a conquista do brasileiro de 92), a estrutura de modelo arcaico novamente desmontou, e de repente o Botafogo se viu em 93 sem presidente, sem dinheiro e sem elenco, com uma base fraca e, principalmente, sem perspectivas.

Por conta dessa nova quebra, e impossibilitado de se fazer grandes contratações através de jogadores livres (a Lei do Passe Livre só entraria em vigor em 1998), o Botafogo passou a recorrer ao expediente de contratar jogadores por empréstimo ou vinculados a empresários. Foi até bem sucedido com essa política em vários momentos, em especial no Brasileiro de 1995, quando foi campeão, mas o modelo do time de aluguel e contratos curtos perdura até hoje.

Até houve uma tentativa de se consertar essa situação no primeiro mandato da Gestão Bebeto, com a aplicação do conceito de contratos longos e jogadores mais identificados com o clube, mas essa política foi claramente abandonada em 2008 e aprofundada posteriormente.

4.2.2 – A ATUAL FILOSOFIA DE MONTAGEM DO TIME

A montagem do time é atualmente de responsabilidade do supervisor de futebol, Anderson Barros, auxiliado pelo técnico do time, Estevam Soares.

A filosofia implantada é a de contratos curtos, de um ano, com jogadores sem espaço em outros clubes. Jogadores da base, que não tiveram a preparação necessária (como visto no capítulo anterior), são pouco aproveitados. Jogadores com passe-livre também são aproveitados em contratos curtos, de no máximo dois anos. É a filosofia do time de aluguel.

Essa filosofia tem uma vantagem: a falta de responsabilidade no caso de falha na escolha do elenco, podendo o jogador que não deu certo ser dispensado ao fim da temporada sem maiores consequências jurídicas e econômicas. Além disso, não é necessária uma vultosa quantia de investimentos.

Em compensação, tem uma série de desvantagens: jogadores valorizados não dão retorno ao clube, não há identificação do jogador com a torcida, não há identificação do jogador com o clube, a base é desvalorizada ainda mais, além de outras subconsequências econômicas provenientes desses fatores, como a queda na arrecadação de marketing, bilheterias e catering; além de expor certa fragilidade institucional do clube frente a outras agremiações.

4.2.3 – A ATUAL FILOSOFIA DE TREINAMENTO

A filosofia de treinamento fica a cargo do técnico de futebol, sem interação com o futebol da base, seja técnico, tático, físico ou psicológico (como visto no capítulo anterior) o que inviabiliza uma rápida transição do menino da base para o profissional.

A falta de preparação técnica do atual profissional (Estevam Soares nunca estudou educação física e seu único título é um campeonato potiguar em 1997) é um fator de fragilidade e desorganização do departamento de futebol, dando a impressão até de ser a organização do futebol do Botafogo algo um tanto amador.

4.2.4 – O MODELO ORGANIZACIONAL ATUAL

O modelo organizacional atual do futebol profissional é, dentre os modelos apresentados no capítulo passado, uma organização linear, estruturada na linha de comando presidente - vice de futebol – supervisor de futebol – técnico de futebol.

4.2.5 – O CT DE GENERAL SEVERIANO

O futebol profissional hoje treina no CT João Saldanha, que fica dentro da sede social de General Severiano. O CT conta com sala de musculação, dormitórios, um campo de dimensões mínimas (90X60) e, recentemente, foi construída uma sala de imprensa.

4.3 – SOLUÇÕES APRESENTADAS PELA DIRETORIA ATUAL

As soluções apresentadas pela diretoria na campanha eleitoral foram as de praxe para a base: valorização e investimento na base, com reforma de Marechal Hermes e utilização maciça dos jovens no time profissional.

Para reforços, foi prometido um fundo de investimentos por empresários botafoguenses no montante de R$ 50.000.000,00, durante a composição de chapas. Após a formalização da chapa, o valor caiu para R$ 20.000.000,00 e, por fim, foi criado um fundo, apelidado de “Fundilho do Assumpção” aqui neste espaço, de R$ 5.000.000,00, 10% do valor original.

A verdadeé que nenhum esforço foi feito no sentido de acabar com a política de times de aluguel que destrói o Botafogo: não foram feitos investimentos na base e os poucos destaques tiveram parte de seus direitos federativos entregues a preço de banana para investidores.

Os jogadores “agentes livres” são contratados também em contratos de um ou dois anos.

O tal fundo até hoje não foi usado de maneira significativa e seu valor é ridículo frente à quantidade de investimentos que o futebol moderno demanda.

E pior, esse fundo, de certa forma, é uma volta à política de mecenas que tomou conta do Botafogo nas décadas de 50 e 60 e fim da década de 80, e que resultou na catástrofe econômica do Botafogo nas décadas seguintes.

A única verdadeira política estrutural de sucesso implementada no Botafogo nesse começo de gestão, a responsabilidade administrativa, parece também estar sendo deixada de lado.

Vamos precisar consertar o Botafogo.

4.4 – CONSERTANDO O FUTEBOL PROFISSIONAL DO BOTAFOGO

O futebol profissional do Botafogo precisa definitivamente superar a temerária política de times de aluguel que persiste em ser executada no Botafogo.

Para que isso aconteça, precisamos respeitar os seguintes princípios: (i) responsabilidade administrativa; (ii) valorização da base; (iii) divisão entre futebol e social; (iv) otimização de receitas; e (v) criação da identidade entre atletas, clube e torcida.

Esses princípios serão discutidos e aplicados nos tópicos a seguir.

4.4.1 – A NOVA FILOSOFIA DE MONTAGEM DO TIME

A filosofia de montagem do time não tem como não começar por um bom trabalho nas categorias de base.

Muito se discute acerca qual seria a função das divisões de base. A visão dos empresários sempre será no sentido de que a base tem como objetivo a descoberta de jovens craques para posterior venda a outros clubes, principalmente do exterior.

Discordo completamente. Um conhecido, que já trabalhou na melhor divisão de base do Estado do Rio, a do Fluminense, me explicou que a revelação de um craque é algo absolutamente aleatório. Segundo esse profissional, o craque é um talento que é moldado na base, mas seu talento é um diferencial que, em última análise, atenua a necessidade de um bom trabalho.

A verdadeira função do futebol de base é lapidar talentos que, embora não sejam extraordinários, servem para compor de maneira eficiente um elenco, fornecendo bons valores para o time titular, desde que essa transição seja bem-feita. Remeto os leitores ao tópico 3.4.3 do capítulo passado acerca do tema.

Com um time de boa qualidade formado a partir da base, e com uma filosofia própria de jogo que é implementada desde o profissional até o mirim, a necessidade de contratações diminui sensivelmente, carecendo o elenco apenas de reforços pontuais.

Como os reforços serão apenas pontuais, a ideia principal é concentrar os recursos para realmente trazer dois ou três jogadores que façam a diferença.

A política de contratos não pode ser de outro modo senão através de contratos longos. Embora seja um risco, fazer contratos de curta duração traz uma série de problemas à receita do clube. Recapitulando: jogadores valorizados não dão retorno ao clube, não há identificação do jogador com a torcida, não há identificação do jogador com o clube, a base é desvalorizada ainda mais, além de outras subconsequências econômicas provenientes desses fatores, como a queda na arrecadação de marketing, bilheterias e catering; além de expor uma certa fragilidade institucional do clube frente a outras agremiações.

A única vantagem possível na política de contratos de curta duração, que é o fato de se dispensar o jogador sem ônus ao final do ano no caso de a contratação ter sido equivocada, não é suficiente para se manter essa postura, pois a venda de um único jogador pode, com certa vantagem, compensar quaisquer outros erros de contratação.

Eu gosto de chamar essa filosofia de contratações de “fim da política de meio e começo da política de fim”.

O que acontece hoje é que o Botafogo é visto por dirigentes, funcionários atletas e empresários não como um fim em si mesmo, mas como um instrumento, um meio, para se lucrar com relativa margem de segurança. É a utilização da chamada “vitrine” do Botafogo para futura venda, sem bônus para o clube. Com isso, empresários continuam se locupletando em cima do clube, deixando uma comissãozinha, sempre, na mão de certos dirigentes.

Essa relação promíscua com o empresariado precisa acabar. Jogadores sem compromisso com o clube e sem uma parcela considerável dos direitos econômicos nas mãos do Botafogo não podem jogar no clube por questões éticas, econômicas e administrativas auto-evidentes. Caso o empresário ou outro clube queira botar um jogador no Botafogo, somente com grande parcela dos direitos econômicos pertencendo ao Botafogo e sob a tutela esportiva e patronal do mesmo, ou então é melhor deixar o garoto da base jogando.

O Botafogo precisa imediatamente acabar com a política de vitrine e começar e se portar como um fim em si mesmo, como o clube em que um bom jogador possa passar a carreira, tal como se portam outros grandes clubes como Flamengo, São Paulo e Corinthians.

A eventual venda de bons valores que se destacam no profissional deve ser vista como uma consequência natural de um bom trabalho feito na base e nas contratações, mas não pode nunca ser o objetivo final de um clube que tem por objetivo a realização de resultados esportivos condizentes com a sua grandeza.

E da mesma maneira que se valorizam os garotos da base, temos que valorizar e fazer longos contratos com os agentes livres ou profissionais contratados de outros clubes. Profissionais contratados por longo tempo e com certa estabilidade passam a ter maior vínculo com a torcida, com o clube, e trabalham melhor.

A substituição de peças do time deve se dar de maneira gradual, com duas ou três peças sendo substituídas por temporada. Cito a frase de um amigo: “quem troca o time inteiro no fim do ano é time pequeno, é Guarani, Portuguesa e Ceará”. O Botafogo, nesse diapasão, se porta como time pequeno, e quando se vê como time pequeno, é visto pelos outros também como tal.

Por isso minhas preocupações quando vejo que o time desse ano está sendo todo montado em cima de empréstimos de um ano. Estamos novamente sendo alvos de empresários e de clubes rivais, que lucram em cima da nossa subserviência e nos descaracterizam como instituição esportiva.

4.4.1.1 – A TRANSIÇÃO

O papo está muito bom, mas como se faz a transição entre o modelo atual e ideal?

Vejo duas saídas.

Saída 1: utilização prioritária dos medianos jogadores da atual base, contratação de jogadores destaques de times menores em contratos longos e com parcela dos direitos econômicos atrelados ao Botafogo, contratação de agentes livres no mercado com contratos longos, e parceria com o empresariado para um ou dois grandes jogadores enquanto se estrutura as bases nos moldes apresentados no capítulo anterior.

O problema dessa saída é que o elenco nos primeiros dois anos talvez não seja competitivo o suficiente para disputar títulos, mas podemos sempre lembrar que gastar muito não significa, necessariamente, gastar bem. Podemos ver diversos exemplos nesse sentido. Devemos contratar pontualmente, mas bem, e trabalhando a longo prazo para formar jogadores com a filosofia de jogo do Botafogo.

Saída 2: manutenção da atual política enquanto se espera a estruturação e formação da divisão de base e dos jogadores.

Me parece a pior saída pois, embora seja uma política mais barata, não traz um choque de gestão ao clube, por mais dolorosa que seja.

A única coisa certa é que não podemos continuar com o atual estado de coisas, num círculo vicioso que nunca é quebrado.

4.4.2 – A NOVA FILOSOFIA DE TREINAMENTO

A filosofia de treinamento deve ser a mesma relatada nas divisões de base. Recordo aqui o que foi dito a respeito no capítulo anterior:

O estilo de treinamento aplicado deverá ser o chamado “simulação de jogo”. Todos os treinamentos, sejam técnicos, táticos, físicos ou psicológicos, tem como objetivo resolver situações específicas de jogo.

Por exemplo: se temos um jogador na entrada à direita da área, cinco beques na sua frente e mais o goleiro, e tem três companheiros seus entrando na área, vai ser treinado exaustivamente as diversas opções de jogo possíveis para esse jogador.

Essa filosofia é aplicada em todos os tipos de treinamento.

Na parte técnica, nunca haverá um treinamento de toque entre dois jogadores. O treinamento de toque é feito entre dois jogadores, com dois beques marcando, como efetivamente ocorre no jogo. Idem para cruzamentos, finalizações, tomadas de bola, etc.

O treinamento tático é sempre único. Ou seja, os profissionais jogam nas mesmas funções táticas dos juniores, assim como os juvenis e os infantis. Desse modo, quando o garoto pula de categoria, não tem a menor dificuldade em adaptar-se imediatamente ao time de cima.

O treinamento físico também é moldado para as situações de jogo, claro que sem dispensar a musculação. Então o tiro de 40 metros será sempre feito com uma bola esperando o menino no fim da corrida, de modo que ele seja obrigado a fazer uma jogada logo após o sprint. Jogadores do estilo “Ricardinho”, que jogou no Botafogo ano passado, que correm, mas não sabem o que fazer com a bola quando chegam nela, não são produzidos nesse sistema.

Por fim, o treinamento psicológico tem três funções: (i) blindar o psicológico do jogador frente aos problemas domésticos; (ii) estruturar o jogador para conviver bem com os perigos da fama; (iii) treinar o profissional para suportar bem as pressões do jogo.

Esse treinamento revolucionário já tem seguidores no Brasil, em especial os profissionais ligados à Universidade do Futebol. Basta contratá-los para gerenciar essa revolução aqui.

4.4.3 – O NOVO MODELO ORGANIZACIONAL

Do ponto de vista gestacional, a separação entre futebol e o social do clube é essencial para se delimitar as receitas e despesas de cada setor.

Remeto os leitores ao tópico 1.4 do primeiro capítulo da série para maiores esclarecimentos.

Quanto à estrutura de campo de jogo, a organização linear deve ser superada por uma organização linha staff, com assessorias especializadas trabalhando dentro da estrutura organizacional do clube, tal como deveria ser feito na base.

Essas assessorias, especializadas, cada uma, em fisiologia, psicologia, nutrição, farmacologia, treinamentos técnicos, treinamentos táticos, entre outros, influiriam e seriam a última palavra na planificação e execução do treinamento, cada uma em sua área.

Infelizmente, por mais que o técnico seja um bom professor de educação física, ele sempre terá falhas em um ou outro campo que comprometerá a formação do atleta, e a estrutura linear, focada na autoridade do técnico, leva a esse comprometimento, superado pela estrutura linha-staff de assessorias específicas.

4.4.4 – O NOVO LOCAL DE TREINAMENTOS

O problema de General Severiano já foi discutido no ponto 2.4.1 do capítulo dois da série, mas vale a pena ser relembrado aqui.

A instalação de um CT profissional dentro da sede de General Severiano trouxe dois problemas ao clube: (i) inviabilizou o florescimento do clube social Botafogo e (ii) não deu ao futebol profissional a estrutura necessária para um bom desenvolvimento esportivo; tudo isso por absoluta falta de espaço.

Se isso já não fosse o suficiente, essa mistura não respeita a divisão racional entre futebol e clube social, causando consequências absolutamente nocivas ao levantamento de receitas e à correta execução das despesas do clube.

O CT João Saldanha tem, hoje, o básico do básico em matéria de CTs profissionais. O departamento médico tem o básico, a academia tem o básico, o refeitório tem o básico, o dormitório, bem, tem o básico também.

Até mesmo o campo é o básico, possuindo as dimensões mínimas para prática de futebol pela FIFA (90X60), o que é inclusive ruim do ponto de vista esportivo, visto que o Engenhão possui as dimensões padrão (105x68), o que faz com que nossos jogadores precisem, de certa forma, se adaptar às dimensões do nosso próprio estádio.

Portanto, o CT João Saldanha precisa sair da sede. Onde poderia ser instalado o novo CT? Algumas opções:

Opção 1: Comprar um terreno e instalar o CT dos profissionais junto com as divisões de base.

Essa seria a melhor opção do ponto de vista esportivo, pois a interação entre profissionais e base seria total, implementando com eficiência a filosofia de treinamento único para todas as categorias. Além disso, o CT seria construído em terreno pertencente ao Botafogo e não a um ente público.

O problema dessa opção é que ela é a mais cara.

Opção 2: Criação de um CT de profissionais em Caio Martins.

Essa seria também uma boa opção, tendo em vista que temos a exploração de Caio Martins assegurada por lei pelos próximos 20 anos e é um espaço nobre de Niterói.

Essa opção é economicamente viável, mas limita a interação entre profissionais e base. Também tem a questão política envolvendo a pressão pela devolução desse bem ao Estado do Rio por parte de políticos niteroienses influentes, como Comte Bittencourt e Rodrigo Neves. Faltaria espaço para uma melhor estrutura de departamentos de apoio, como o médico e fisiológico.

Opção3: Criação de um CT de profissionais a partir do campo anexo do Engenhão.

Parece-me ser hoje a melhor opção. Para quem não sabe, o campo anexo do Engenhão tem as mesmas dimensões do campo principal, o que deixaria o time constantemente adaptado ao gramado do local. Os espaços disponíveis poderiam ser usados para a construção de uma grande estrutura de departamentos de apoio, inclusive com a construção, desde que com alguma ousadia, de um centro de recuperação no mesmo nível do Reffis do São Paulo Futebol Clube, elevando o nível estrutural do clube.

O problema é que o Engenhão não pertence ao Botafogo e limita a interação entre profissionais e base.

Façam as suas escolhas pessoais à vontade ou criem as suas, mas, por favor, retirem o CT de General Severiano.

4.5 - CONCLUSÃO

Eu vejo muitos amigos alvinegros falando coisas do tipo: “política é besteira, queremos craques”, “temos de ousar” ou ainda “precisamos de títulos, o resto é consequência”.

Quando eu leio isso, não posso deixar de pensar que estão todos no mundo da lua. Vivemos em um mundo que funciona através de trocas, um mundo capitalista. E não posso deixar de pensar sobre como poderemos pagar pelos tais craques se não temos a menor condição de competir com outros clubes brasileiros e, principalmente, europeus.

Não há outra opção que não o investimento na base ou nos agentes livres. Sem um trabalho bem-feito, não temos como competir com nossos rivais.

Não posso deixar de pensar que a obsessão por contratar craques sem ter como pagá-los é que nos levou ao atual estado de insolvência.

Ou rompemos com o círculo vicioso, ou cada vez mais nos afundaremos.

As questões financeiras serão analisadas profundamente no capítulo próprio, mas fica aqui um pedido de reflexão: ou fazemos as coisas com razão, ou a emoção nos levará para o fundo do poço. E lembrem-se: gastar muito não é gastar bem.

Semana que vem falaremos sobre o Engenhão.


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Total: 27 comentários



12/01/10@00:06

Bernardo,

Mais uma vez vc está de parabéns pelo texto. Concordo com absolutamente todos os seus argumentos. Pena que a sua visão não seja a mesma das pessoas que dirigem o Botafogo hoje.

Particularmente sou totalmente contra essa ideia de botafoguenses abastados injetarem dinheiro no clube. É obvio que ajuda é bem vinda, mas não podemos depender disso para sobreviver. Por isso sou contra a esses apelos em torno do Eike Batista, por exemplo.

Vamos consertar o Botafogo!!!!

Gustavo Motta



12/01/10@00:09

Jesus, vamos arrumar uma lavagem de roupa... vamos trabalhar... que texto cheio de filosofia e enorme. Duvido que alguem tenho colhoes para ler isso tudo, cheio da merma ladainha de sempre!!! Del!



12/01/10@00:10

Como se liderar uma instituicao como um grande clube de futebol como o Botafogo fosse uma receita de bolo!!! kkkkkkkk



12/01/10@01:14

Gustavo, vamos consertar o Botafogo! rs!

Amigo Tatu,

Se apenas uma pessoa ler e essa pessoa se tornar mais uma a tentar mudar o Botafogo, para mim já é o bastante.

Um grande abraço!



12/01/10@02:51

Temos que ler o texto para entender e ter uma opinião, quem não tem colhoes para ler ou não esta interessado em entender a atual situação do clube ou não tem "concentração" para entender o que esta lendo.
Para entender "uma instituicao como um grande clube de futebol como o Botafogo" tem que ser um texto grande, quem não puder ler,que vá trabalhar ou lavar uma roupa.



12/01/10@09:46

Quem não tem uma coisa boa pra falar, mesmo sendo crítica, não deveria escrever.

Parabéns Kosh,

espero que alguém lá de dentro leia tudo e consiga no mínimo tirar alguma idéia dos seus brilhantes textos.

Um colossal abraço.



12/01/10@11:28

na realidade todas as informaçoes são validas....
um clube não vai a frente sem este tipo de informação
o clube empresa de hoje tem q ter uma administraçao impecavel e um acerto quase q total no gasto da pouca verba disponivel.!!!
ótimo texto e abraço!!!



12/01/10@15:20

Caro Bernardo,
tenho acompanhado sua série desde o início e realmente nunca li nada tão impressionante sobre os meandros do Botafogo quanto seus textos. Parabéns. É a expressão de muita coisa que penso e que gostaria de sugerir para os caminhos do clube. Espero que esta brilhante dissertação possa ser colocada em prática logo.
Imagino que vc teve muito trabalho para pensar e montar estes textos, torço para que vc e todos nós botafoguenses possamos encontrar mecanismos para colocá-lo em prática. Interessa-me especialmente o tópico Sócio Torcedor com Voto e concordo totalmente com seus argumentos. Manifesto-me sempre sobre isso no blog do MCR e no meu próprio blog galeriabotafogo.zip.net. Espero um dia conhecê-lo e tenha certeza de que eu e milhares de botafoguenses concordamos com vc e gostaríamos de ajudá-lo.
Maurício L. L. (obs: não sou o cara da churrasqueira..)



12/01/10@20:47

KOSH,

não tenho o prazer de lhe conhecer pessoalmente, mas acompanho sua linha de raciocínio há algum tempo e estou inteiramente de acordo com esse seu projeto.

torço para que você um dia seja o comandante de nosso clube e me baseio no simples fato de sempre querer o melhor para o nosso botafogo, que amamos de paixão.

seu texto é irretocável e longe de mim apontar qualquer senão, mas quero lhe expor uma linha de pensamento que atende a sua explanação.

sou daqueles que acho que a casa botafoguense tem que passar por uma reforma e a mesma, obrigatoriamente, se inicia pela base.

é na base que iremos encontrar as nossas pedras preciosas e, creio, que por um processo natural, encontremos até alguns diamantes.

quando jovem, joguei muito bem futebol, tanto o chamado de campo, como o outrora futebol de salão.

conviví nos dois ambientes e não tenho dúvida em lhe dizer, que um garoto talentoso pode jogar futebol de campo, mas o atual futsal, não basta talento, pois há de se ter inteligência e exemplifico : o alessandro é nosso lateral direito, mas jamais jogaria em qualquer time de futsal, não pela sua limitação técnica, mas pela falta de inteligência para agir dentro da dinâmica de jogo desse esporte.
todo jogador de futsal é participativo, hábil, veloz, inteligente e utiliza sem dificuldade as duas pernas, para passar e chutar.
a deficiência maior, fato o jogo ser de bola rolada é o cabeceio, mas que com treinamentos específicos é logo corrigido.

aí está uma mina, pois já nos anos 60, raro é o grande jogador de nosso futebol de campo, que não tenha começado ou no mínimo praticado o futsal.

uma rede de olheiros nesse esporte, pode nos encaminhar, águas marinhas, ônixes, safiras, esmeraldas, rubis, brilhantes e diamantes.

outro aspecto muito importante para a base e, principalmente para acelerar essa adaptação da bola pesada para a leve é o aproveitamento de nossos ex-craques nessa tarefa.

imaginem um garoto, bem formado e com a cabeça no lugar (é comum entre os futsalonistas), com talento para ser um bom meia, pegar um mendonça pela frente, lhe corrigindo os erros, lhe passando os macetes e os orientando ?

não tenho dúvidas que no momento que sacrificarmos um ou dois anos (normalmente já temos feito isso) com o aproveitamento da base, vamos ter um time com outra atitude e passaremos de time de aluguel para time de competição, de vitrine que se quebra até com golpe de ar, para um ariete com potencial para derrubar tudo e a todos.

meus parabéns pela visão inteligente, moderna e sobretudo desprovida de interesses pessoais, apenas botafoguense.

saudações botafoguenses



12/01/10@23:33

TATU... volva ao mesmo buraco que vieste.
Grandes idéias são escritas por grandes homens.
Do buraco vieste, ao buraco tornarás.....



13/01/10@08:11

Kosh

não mudo uma vírgula do seu texto. Acho até que foi o melhor até agora da série. Já passou da hora de viramos um clube profissional!

Um grande abraço



13/01/10@08:36

Kosh, mais um texto belissimo, que já está impresso e salvo no meu pen drive!!!

Abraços!



13/01/10@09:01

Kosh,

Ótimo texto, principalmente a primeira parte explicando do por que da nossa decadência.
Discordo em relação a proposta de um time formado por jovens da categoria de base e revelações de equipes pequenas. Creio que essa sugestão nos levaria diretamente para a segunda divisão já que, historicamente, esses jogadores citados precisam de pelo menos outros 3 mais experientes para dar segurança a esses jovens.
Concordo com o retrato sobre GS, mas discordo da solução. Creio que podemos conciliar o futebol profissional com uma sede social atraente. 90% dos treinamentos são feitos em campo reduzido (50 metros),
pense nisso.



13/01/10@16:43


Trata-se de uma bela plataforma para gerir o BFR e gostaria de vê-la em prática o mais rapidamente possível.

No entanto concordo com o Cuca no seguinte ponto, creio que uma transição radical que abrisse mão de reforços pontuais disponíveis no mercado da Série A e exterior e que contasse apenas com a base e reforços(?) de times pequenos já de início, nos levaria ao descenso, o que poderia ser catastrófico na manutenção do projeto de implementação dessas mudanças mais profundas e tão necessárias. Certamente a pressão de opositores com visão mais estreita e imediatista apoiados pela insatisfação de torcedores colocaria tudo a perder. Conhecemos o BFR...
Portanto esta mudança de postura na política de contratações deveria ser feita a meu ver de forma mais cuidadosa e gradual e que o projeto de mudanças seguisse radical e aprofundado em suas outras frentes.

Quanto a saída do futebol de GS, concordo plenamente, a parte social pode até ser melhorada nas atuais circunstâncias, mas não tem mais pra onde se expandir.

SAN!!!



13/01/10@20:01

Em relação à cisão jurídica entre futebol e clube social, fico com uma dúvida:
Quem ficaria com a dívida de mais R$ 200.000.000,00 que assola o BFR?
Quanto à chamada "Teoria Messiânica", não acho tão incompatível com um projeto de Botafogo que se mostre profissional e com atenção mercadológica, ou seja, auto-sustentável e interessante como investimento.
Parabéns novamente.
Maurício L. L.



13/01/10@22:47

Sem dúvida o futebol, que foi o causador principal da dívida.



13/01/10@22:49

Ah, Maurício, será um prazer encontrá-lo. Me mande um e-mail!



13/01/10@23:26

Kosh, mais uma vez tu fostes preciso.

Espero e acredito que um dia veremos nosso Glorioso Botafogo estruturado de forma profissional e competente. Há cabeças pensantes, como voce, que entendem de froma lúcida os nossos problemas e apresentam soluções factíveis. Colocá-las em prática demanda dedicação e muito trabalho. Esse é o caminho para voltarmos a ser grandes.
Quanto mais breve, melhor.



14/01/10@12:41

Kosh,

Confesso que nao tenho ido tempo de ler seus textos.
Mas estou salvando todos para analisa-los (e comenta-los) de uma vez só
abs



14/01/10@20:05

Realmente, um texto lindo que nao serve pra nada ehehehehhehehe. Retorica, apenas... O Botafogo nao vai ser do buraco com uma receita de bolo.. tsc. Nao mudo minha opiniao. Vai la pra dentro e faz algo, ficar escrevendo texto bonitinho pra coluna de Internet eh molinho molinho...



14/01/10@20:11

Amigo Tatu,

fique certo de que, quando meu grupo político assumir o clube, vou poder fazer muito pelo Botafogo.

Toda gestão começa com planejamento.

Grande abraço!



15/01/10@18:18

Ehehehehhehehe ok.



17/01/10@11:44

Kosh,
apenas e tão sómente uma sugestão.
Penso eu que certas coisas são de forum CONFIDENCIAL.
Isso não implica em dizer que seja falta de transparência. Não se desgaste antes da hora. Você pode estar "armando" aqueles que não compartilham de suas idéias. Veja que alguns o criticaram só por criticar, mas NADA mostraram de forma inteligente se existe alguma coisa em contrapartida.
Sei que vc é muito jovem e se por uma acaso minha sugestão for aceita é com o simples intuito de preservá-lo de ataques desnecesários daqueles que são defensores do atuais mandatários. Aliás é impressão, ou voltaram os famosos "fakers"? Tem gente por aqui que é especialista neste assunto.



17/01/10@13:15

KOSH, endosso a manifestação do colega SUPERSTAR. Acho que vc tem brilho próprio e que no calor dos embates, às vezes dá "ouvidos" a alguns que apenas são passageiros incipientes e insipientes na história do nosso BotaFOGO. Preserve-se.



18/01/10@14:19

Superstar,

bem colocado!



20/01/10@17:36

sempre que posso tenho aprendido com os seus textos.
comprei meu título, pois quero votar, acho que assim fazendo estarei dando o primeiro passo para tentar mudar este estado de coisas



25/01/10@02:36

muito bom.

 


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