CONSERTANDO O BOTAFOGO – CAPÍTULO VI - MARKETING
Por Bernardo Santoro
Em 02/03/2010, às 22:39:37
6.1 – INTRODUÇÃO

A introdução deste capítulo será um pouco mais longa que o de costume. Isto porque se faz necessário uma breve explicação do que são marketing e marketing esportivo.

Marketing é a parte do processo de produção e de troca que está relacionado com o fluxo de bens e serviços do produtor ao consumidor. É popularmente definida como a distribuição e venda de mercadorias, além da criação destas mercadorias, em alguns casos. Marketing inclui as atividades de todos aqueles que se dedicam à transferência de mercadorias desde o produtor até ao consumidor.

O marketing esportivo é a especialização do marketing na área esportiva, e tem, em linhas gerais, as seguintes funções: (a) fortalecimento e rejuvenescimento da marca e imagem do clube, (b) conquista e exploração de mercado; (c) instrumento de comunicação; (d) exposição da marca na imprensa e em diferentes mídias, inclusive através do chamado “retorno de mídia espontâneo”; (e) simpatia junto ao público e mídia, com certo enfoque no envolvimento do clube com a comunidade.

Utilizando a estrutura já conhecida pelos leitores, analisaremos (i) com mais profundidade e com visão própria o que deve ser o marketing esportivo e (ii) como funciona atualmente o marketing do clube. Por fim, (iii) tentaremos consertar o marketing do Botafogo.

6.2 – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARTICULARES SOBRE MARKETING ESPORTIVO

Nesse tópico vou trazer uma visão própria acerca das funções do marketing esportivo trazidos mais acima.

6.2.1 – FORTALECIMENTO E REJUVENESCIMENTO DA MARCA E IMAGEM DO CLUBE

Fortalecimento e rejuvenescimento da marca e do clube são coisas distintas que acabam por interagir. Vejamos:

6.2.1.1 – A IMAGEM DO CLUBE

Uma administração austera e competente é o primeiro passo para o fortalecimento e rejuvenescimento da imagem do clube. Diversos exemplos podem ser dados nesse sentido, mas podemos focar a situação de São Paulo e Internacional.

São Paulo e Internacional têm sido, nos últimos anos, casos definitivos da chamada competência administrativa, pois os grupos políticos que passaram a gerir esses clubes foram muito bem sucedidos em reorganizar as dívidas, contratar bons jogadores, investir na base, explorar seus estádios e aplicar a responsabilidade administrativa, sem gastar mais do que arrecadam. Lembro que não são gestões perfeitas, mas pelo fato de serem muita acima da média do futebol brasileiro, se destacam.

Por conta disso, automaticamente é construída, em face do público em geral, uma aura de progresso e de bonança nos anos futuros, o que garante a esses clubes uma imagem excelente. A boa administração também, em regra, traz bons resultados, o que dá ao clube uma imagem de vencedor.

Concluo, com isso, que a imagem do clube depende, quase que exclusivamente, do modo como o mesmo é gerido por seus diretores e dos resultados por eles obtido.

6.2.1.2 – FORÇA DA MARCA

Evidentemente que a imagem do clube (e, indiretamente, a competência da sua diretoria) é relevante para a força da marca do clube, mas aqui o mais importante não é a imagem. O poder da marca do clube está intimamente ligado à quantidade e qualidade sua torcida, ou, em outras palavras, ao seu mercado consumidor.

Trabalhando melhor essa ideia de quantidade e qualidade, vejamos dois casos de torcidas praticamente antagônicas: Flamengo e Fluminense.

O Flamengo tem a maior torcida do Brasil, atingindo especialmente as camadas economicamente mais desfavorecidas da sociedade, mas é uma torcida tão grande que a parcela da classe alta que torce pelo Flamengo é muito maior que a maioria dos demais clubes.

Ainda que por vários anos o Flamengo tivesse sido muito mal administrado, sua marca junto ao mercado permanecia muito forte, em virtude de seu grande mercado consumidor que atinge todas as classes sociais, ainda que sua imagem estivesse deteriorada por escândalos como o da ISL.

O Fluminense, por outro lado, tendo uma torcida gritantemente menor que a do Flamengo, tem a maior parte da sua torcida, do seu mercado consumidor, com alto poder aquisitivo (pesquisa recente mostra que apenas 7% da torcida do Fluminense se encontra nas classes D ou E). Por mais que o Fluminense seja mal administrado e os resultados não venham, ou seja, sua imagem seja péssima, sua marca permanece forte, especialmente para as empresas que tenham como mercado consumidor as classes A, B e C.

Vejam que, para algumas empresas, é mais interessante contratar com um clube com a marca do Fluminense, por ter mercado consumidor idêntico ao desse clube, do que contratar com um clube como o Flamengo, por ter esse uma marca mais cara e que nem sempre tem o mercado consumidor que a empresa quer explorar. O termo técnico disso é “segmentação de mercado”. No caso em tela, o segmento de mercado de uma empresa pode ter muitos torcedores do Fluminense, e poucos torcedores do Flamengo, sendo melhor e mais barato para tal empresa patrocinar o Fluminense.

Por fim, é muito importante também avaliar a fidelização dos torcedores à marca do clube. Não tenho dados acerca disso, portanto trabalharei aqui um exemplo hipotético:

Digamos, em tese, que, de acordo com pesquisa feita, 80% dos torcedores do Fluminense só comprariam produtos do patrocinador do clube e nunca comprariam produtos do rival do patrocinador. 15% dos torcedores do Fluminense comprariam preferencialmente produtos do patrocinador, mas comprariam o do rival se fosse muito mais barato ou de melhor qualidade e apenas 5% consumiriam qualquer produto, independentemente de quem está patrocinando o Fluminense.

Por outro lado, em tese, de acordo com a mesma pesquisa hipotética feita, apenas 2% dos torcedores do Flamengo só comprariam do patrocinador do clube e nunca do rival; 13% comprariam preferencialmente produtos do patrocinador, mas comprariam do rival se fosse muito mais barato ou de melhor qualidade e 85% consumiriam qualquer produto, independentemente de quem patrocina o Flamengo.

Nesse caso hipotético, determinada empresa também teria preferência em patrocinar o menor clube, o Fluminense, pelo fato de sua torcida ser muito mais fiel que a do Flamengo.

Portanto são diversas as nuances por trás da questão da força da marca.

6.2.1.3 – FORTALECIMENTO E REJUVENESCIMENTO DA MARCA

É exatamente aqui que ocorre a simbiose entre imagem e marca. A imagem do clube, em curto prazo, não influencia tanto a força da marca, mas em longo prazo ela é preponderante, pois uma imagem desgastada de clube tende a diminuir o número de torcedores que, por fim, atinge a força da marca.

Portanto, uma boa imagem, de clube austero e vencedor, é fundamental para o fortalecimento e rejuvenescimento da marca no futuro.

6.2.2 – CONQUISTA E EXPLORAÇÃO DE MERCADO

A questão da conquista de mercado no marketing esportivo é trabalhada de maneira absolutamente distinta do marketing dito standard (ou comum).

A conquista de mercado, no marketing standard, é muito mais agressiva, pois o consumidor está sempre interessado em produtos mais baratos e eficientes, sendo, portanto, muito volúvel na hora de decidir entre a marca “X” ou “Y”.

Não é o que ocorre no marketing esportivo.

A altíssima fidelização no consumo de produtos, no marketing esportivo, é um grande facilitador nesse ramo. Você, caro alvinegro, vai comprar um computador da Dell se esse for mais barato que o da HP, mas você não vai comprar uma camisa do Flamengo, em detrimento da do Botafogo, só porque a camisa do Flamengo está mais barata, ou o Flamengo está em melhor posição no campeonato que o Botafogo.

No marketing standard, existe um ditado que diz: “é mais barato manter o cliente que conseguir novos”, e as empresas em geral levam isso muito a sério. No marketing esportivo, então é mais fácil ainda.

O que quero dizer, em resumo, é que, após certa idade, a probabilidade de alguém trocar de time é mínima, se não for desprezível.

Então cabe a questão: onde se conquista mercado consumidor para o Botafogo?

A primeira resposta, e mais óbvia, é: o segmento de mercado infantil. O marketing esportivo do Botafogo precisa ter enfoque quase que total no esforço de cada vez mais se apresentar de maneira simpática para as crianças, que são aquelas que ainda não definiram o time para o qual torcem. No momento em que essa escolha é feita e se passa do tempo de mudar de time, é esse o time pelo qual elas torcerão para sempre, ainda que diretorias fracas façam inúmeras besteiras. O mercado consumidor adulto de botafoguenses não pode ser negligenciado, mas já são clientes altamente fiéis, ao passo que as crianças não são. Esse deve ser o enfoque.

A outra conquista de mercado consumidor seria o trabalho junto a povos que ainda não tem o esporte “futebol” bem desenvolvido, como certos países da América Central e Caribe, África, Ásia e Oceania. O problema de se fazer projetos visando o mercado consumidor desses países, com a criação de núcleos, subsedes ou filiais, é que certamente seria muito caro e além das possibilidades financeiras atuais do clube.

Sobre a exploração do atual mercado consumidor, comprovadamente fiel, a política mais eficiente é fazer a aludida segmentação de mercado da torcida, e, dentro de cada grupo específico de botafoguenses, otimizar a venda de produtos e serviços ligados à marca Botafogo.

6.2.3 – INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO

O marketing esportivo também tem como função a comunicação do clube com o seu consumidor botafoguense, de modo a mantê-lo atualizado sobre tudo o que está acontecendo no clube hoje, suas melhorias, conquistas, entre outros.

Nesse sentido, as modernas tecnologias facilitaram muito essa comunicação. Grandes clubes do mundo inteiro mantêm listas de e-mails, páginas de internet atualizadas, mandam sms para os celulares, cartas, entre outras coisas, sempre no sentido de fornecer, em tempo real, os mais diferentes produtos para o seu mercado consumidor.

Não se pode deixar de fora, também, o segmento de mercado botafoguense que não tem acesso a essa tecnologia, em especial as classes “D” e “E”, buscando sempre meios de comunicação que cheguem a esse segmento.

O marketing esportivo como instrumento de comunicação é especialmente importante em um clube como o Botafogo, tendo em vista que mais de 60% de seu mercado consumidor mora a mais de 500 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, o que, em outras épocas, dificultava muito a interação do clube com esse importante segmento de mercado alvinegro. Esse segmento tem sido negligenciado constantemente.

Mas acredito que a característica mais importante do marketing esportivo, nesse caso, não é como instrumento de comunicação do clube para com o seu torcedor, mas sim a comunicação do torcedor para com o clube.

É o chamado “feedback” do consumidor.

O Botafogo hoje não demonstra o menor interesse para com o que o botafoguense pensa e quer do clube. Esse é um erro de marketing gravíssimo. Não há como moldar o fornecimento de um serviço para o mercado consumidor botafoguense se o Botafogo não faz o menor esforço em saber o que o torcedor quer e como o torcedor quer um produto. Esse afastamento entre clube e torcida pode ser muito reduzido através de um bom marketing esportivo que não seja apenas instrumento de comunicação Botafogo-botafoguense, mas também botafoguense-Botafogo, e ambos só tem a ganhar com esse envolvimento maior, com esse feedback.

Esse assunto especificamente, bem como outros, serão mais bem exemplificados em tópico próprio.

6.2.4 – EXPOSIÇÃO DA MARCA NA IMPRENSA

É evidente a força da imprensa, não só a escrita, como também a falada e a digital, no marketing esportivo de um clube, de modo que a marca do clube esteja sempre positivamente exposta.

Para isso, faz-se necessário uma assessoria de imprensa altamente especializada que promova, na medida do possível, o clube sempre de maneira positiva e se esforce, ao máximo, para evitar que assuntos que deveriam ser discutidos internamente, como rachas no elenco ou atraso de salários, venha a público, causando ainda mais estragos na imagem do clube.

A falta dessa assessoria, durante muito tempo, resultou em grandes danos à imagem do clube. Essa relação precisa ser bem trabalhada.

E precisa ser bem trabalhada, além dos motivos óbvios, por outro motivo que nem sempre é bem explorado: o retorno de mídia espontâneo.

O Botafogo, bem como todos os outros clubes brasileiros, tem um retorno de mídia espontâneo, ou seja, pelo qual o Botafogo não precisou pagar, que é simplesmente inacreditável de tão alto.

Apenas como exemplo, o Botafogo, bem ou mal, sempre tem uma tira diária no jornal de grande circulação “O Globo”. Se algum particular quisesse comprar esse mesmo espaço, gastaria uma fortuna pelo mesmo espaço que o Botafogo tem de graça.

Da mesma maneira, o Botafogo, bem ou mal, tem seus 30 segundos diários no GloboEsporte, da TV Globo. Um particular que queira usar 30 segundos na mesma TV, paga uma baba por mês de comercial.

Vejam que, em regra, grandes empresas não possuem tamanho retorno de mídia espontâneo, precisam pagar pela exposição.

Uma assessoria de imprensa que saiba utilizar bem esse retorno de mídia espontâneo e potencializá-lo, além de diminuir as despesas com propaganda, abre espaço para parceiras explorarem essa projeção, aumentando as receitas do clube.

6.2.5 – SIMPATIA JUNTO AO PÚBLICO E À MÍDIA

Ações sociais junto ao público e com cobertura da mídia, em regra, fazem muito sucesso e agregam muito valor à imagem e à marca do clube. Os clubes europeus, especialmente, têm grande preocupação nessa área, sempre levando jogadores do clube para visitar hospitais, escolas e criando movimentos de solidariedade social.

Essas ações de marketing, no Brasil, são muito pouco exploradas e, em regra, organizadas pelas torcidas, e não pelos clubes.

6.3 – O ATUAL MARKETING ESPORTIVO DO BOTAFOGO

O atual marketing esportivo do Botafogo é uma tragédia em todos os sentidos e vamos trabalhar cada ponto para entendermos o porquê.

6.3.1 – FORTALECIMENTO E REJUVENESCIMENTO DA MARCA E IMAGEM DO CLUBE

6.3.1.1 – A IMAGEM DO CLUBE

Como visto anteriormente, a imagem do clube passa por uma administração austera e vencedora. É justamente o que não acontece aqui.

A imagem que a sociedade tem da diretoria do Botafogo é a de um grupo confuso e sem um verdadeiro projeto de clube. Parece haver um estranho esquema de empresários e, de modo geral, a diretoria tem aversão à participação da torcida nos rumos do clube, o que traz uma pecha de antidemocrático.

Os resultados não são os melhores há muito tempo, com o estigma de vice-campeão. O episódio do “chororô”, ainda na gestão da antiga diretoria, foi um tiro no pé, pois criou uma imagem derrotista ao clube, que é difícil de ser retirada.

Os negócios são, em regra, obscuros, sem maiores explicações.

Portanto, faz-se necessário, imediatamente, uma mudança na imagem do clube, democratizando o acesso da torcida ao clube, tornando a gestão profissional e aumentando as receitas através da torcida do Botafogo, seu grande público-alvo. Um clube organizado rapidamente consegue resultados expressivos, trazendo de volta ao clube a imagem de uma instituição vencedora.

6.3.1.2 – FORÇA DA MARCA

A força da marca, relembrando, está ligada à quantidade e qualidade da torcida, especialmente quanto à fidelização.

A marca “Botafogo” ainda é muito poderosa. A torcida do Botafogo é, segundo recente pesquisa promovida pela Rede Globo, a mais heterogênea do ponto de vista econômico no Estado do Rio. O que isso significa? Explico.

Segundo a pesquisa, a torcida do Botafogo é assim composta: 20% da classe A, 20% da classe B, 20% da classe C, 20% da classe D e 20% da classe E. O Botafogo está em todas as classes sociais.

Com isso, a torcida tem um expressivo poder econômico (característico das classes A, B e C) e alta capacidade de renovação (característica das classes C, D e E).

Além disso, mesmo contra o consenso, a torcida do Botafogo está sim se renovando, também estando todas as faixas etárias mais ou menos uniformes.

O Botafogo está então em todos os segmentos econômicos, o que favorece a parceria com empresas que explorem todos os segmentos.

E a torcida do Botafogo está em todos os estados do país (quase 60% da torcida do clube está fora do Estado do Rio de Janeiro), o que ajuda a buscar parcerias que queiram promover produtos nacionalmente.

O Botafogo hoje simplesmente não consegue explorar o potencial da sua marca, pois a diretoria do Botafogo não acredita na marca Botafogo. O imbecil que está presidente do Botafogo já falou várias vezes na mídia que a torcida do Botafogo é velha, o que não é verdade, e mesmo se fosse, não deveria ser dito publicamente pelo presidente do clube, sob pena de comprometer a marca e a imagem do clube. A diretoria fez questão de desvencilhar o Engenhão da marca Botafogo. A diretoria não vende a marca do Botafogo a contento.

6.3.1.3 – FORTALECIMENTO E REJUVENESCIMENTO DA MARCA

Em longo prazo, a péssima imagem que o clube tem junto à sociedade poderá, efetivamente, reduzir a renovação da torcida e prejudicar sensivelmente o valor da marca Botafogo, a não ser que se mude agora esse marketing temerário.

6.3.2 – CONQUISTA DE MERCADO

Relembrando, o mercado consumidor de futebol é diferente do mercado consumidor standard. A fidelização é muito grande. Para explorar essa fidelização, foi lançado recentemente o programa “Sou Botafogo”, que praticamente só explora a questão do Estádio, transformando esse programa mais em um “carnê de temporada” do que necessariamente um programa de sócio-torcedor (salvo, talvez, a modalidade “Botafogo sem fronteiras”).

Como visto, o único nicho de conquista de mercado consumidor é o público infantil. A única política em prol das crianças é a de Biriba e Biruta, que se restringe a alguns jogos da internet e presença no Estádio.

Não há condições de se fazer, hoje, um projeto voltado para o exterior.

6.3.3 – INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO

Aqui o Botafogo ainda é um clube da década de 80. A comunicação entre o Botafogo e o botafoguense é péssima. O Botafogo não tem um canal oficial de TV, não tem um canal ou programa de rádio. O site do Botafogo na internet é uma piada, provavelmente o pior entre todos os grandes clubes do Brasil.

Por outro lado, não há o feedback com o botafoguense, em virtude da postura autoritária da atual diretoria do clube, que julga saber o que o botafoguense quer, quando seria muito mais fácil simplesmente perguntar.

Para não dizer que não há absolutamente nenhuma interação, a ouvidoria do clube realmente funciona e atende o torcedor com eficiência, mas não tem poder e influência para ditar os rumos do marketing do clube.

6.3.4 – EXPOSIÇÃO DA MARCA NA IMPRENSA

Falta uma assessoria de imprensa realmente qualificada para maximizar fatos positivos que trazem bons ganhos de imagem e minimizar fatos negativos que gerem prejuízo de imagem.

O retorno de mídia espontâneo do Botafogo também é muito bom, embora esteja num nível abaixo de outros grandes clubes. Já tive o prazer de ler uma monografia sobre o tema que pesquisou o porquê disso acontecer e não se chegou a uma resposta conclusiva. Provavelmente por causa da aludida imagem ruim do clube.

6.3.5 – SIMPATIA JUNTO AO PÚBLICO E À MÍDIA

No Botafogo, como é a regra no Brasil, não faz ações de marketing de cunho social. A ação que ficou mais conhecida, a “Estrela Solidária”, foi feito por um grupo de torcedores.

Vamos consertar o marketing do Botafogo?

6.4 – CONSERTANDO O MARKETING DO BOTAFOGO

O marketing do Botafogo precisa, imediatamente, fazer o trabalho que lhe cabe, que é, repisando: (a) fortalecer e rejuvenescer a marca e imagem do clube, (b) conquistar mercado; (c) servir de instrumento de comunicação; (d) otimizar a exposição da marca na imprensa e em diferentes mídias, inclusive através do chamado “retorno de mídia espontâneo”; (e) aumentar a simpatia do clube junto ao público e mídia, com certo enfoque no envolvimento do clube com a comunidade.

6.4.1 – FORTALECIMENTO E REJUVENESCIMENTO DA MARCA E IMAGEM DO CLUBE

A imagem do clube fortalecerá no momento em que o Botafogo começar a ser gerido de forma profissional e democrática, com abertura do clube para a torcida, responsabilidade administrativa, compromisso com pagamento de dívidas, maximização de receitas e organização racional do clube.

Para isso, recomendo a leitura dos capítulos I a IV dessa série “Consertando”, bem como o capítulo IX (Finanças) a ser escrito brevemente.

Com isso, em longo prazo, a marca Botafogo, que já é forte, somente tenderá a crescer cada vez mais e, quem sabe, se restabelecer até internacionalmente.

Sobre a utilização atual da marca, ela deve ter como parâmetro o perfil da torcida do Botafogo, que está distribuída de maneira equânime em todas as classes sociais, e se encontra espalhada por todo o país.

Portanto, prioritariamente, devem ser buscados parceiros que trabalhem com produtos para todas as classes sociais e para todo o país, de modo a maximizar os proveitos da parceria para o clube e os parceiros.

6.4.2 – CONQUISTA E EXPLORAÇÃO DE MERCADO

A conquista de mercado consumidor, dado o problema da fidelização que impede a conquista de mercado consumidor de outros clubes, só pode ser feita direcionando-se ao público infantil ou estrangeiro, sendo este último de custo proibitivo hoje, a não ser de modo virtual.

Como o público infantil é o único público-alvo para a conquista de mercado consumidor, o ideal é que o marketing esportivo seja extremamente agressivo e uma prioridade absoluta para o clube.

O Botafogo, nesse caso, tem dois grandes facilitadores para se chegar a esse público: (i) um símbolo que qualquer criança de três anos consegue desenhar (a estrela solitária) e (ii) uma mascote que é extremamente simpático (o cachorro, melhor amigo do homem).

A criação de um novo mascote canino ou o remodelamento de Biriba e Biruta é o primeiro passo. Uma agressiva campanha com site na internet com vários jogos, no estilo do site Cartoon Network, mas só com temática de Biriba, Biruta, Manequinho (com calças) e Botafogo, é essencial. Transformar o Manequinho (com calças) em um personagem de quadrinhos, tendo como cães Biriba e Biruta, e todo mês participando de mil aventuras, sempre regado a muitas vitórias sobre os rivais, é outra grande jogada de marketing. Visitas desses personagens a shoppings e escolas também, com brincadeiras e histórias com mensagens politicamente corretas, valorizando a necessidade de estudar e ter higiene, por exemplo. Um parquinho no Engenhão, para que os pais possam ver o jogo com conforto enquanto os filhos brincam, também é importante, pois cria na criança o hábito de ir ao estádio.

Com essas medidas, podemos efetivamente buscar essa conquista de mercado.

Mas não basta conquistar, tem que explorar o mercado atual.

Para isso, temos que trabalhar os segmentos de mercado da torcida do clube.

O merchandising e os produtos a serem vendidos para as classes mais altas são diferentes dos destinados à classe mais baixa. Os produtos destinados às classes A e B são mais sofisticados e devem ser, inclusive, mais caros, sem ser um absurdo. Os produtos destinados às classes C, D e E já teriam outra proposta, com preços mais baixos.

Apenas como exemplo: não faz sentido algum a camisa oficial do Botafogo custar R$ 180,00, e se você não tiver esse dinheiro não poder comprar uma camisa oficial, ter que se conformar com alguma camisa de malha com a inscrição “Botafogo” ou comprar camisas falsificadas.

Na NFL, liga de futebol americano, se você for torcedor de um time como o Dallas Cowboys, por exemplo, você pode comprar a camisa oficial, a mesma utilizada pelos jogadores no campo, por cerca de R$ 400,00. Caso você não tenha condição, o menos abastado pode comprar uma “réplica” de material bom, mas menos sofisticado, e no mesmo formato da camisa oficial, por R$ 100,00.

Transportando para a realidade do Brasil, se a camisa oficial do clube custar R$ 150,00, porque não vender uma réplica igual à original, mas de tecido menos sofisticado, embora ainda oficial, por R$ 40,00? Com isso conseguimos explorar o segmento mais abastado, o menos abastado, e combatemos a pirataria não com repressão, mas com competitividade.

Esse foi apenas um exemplo, mas outros segmentos da torcida alvinegra, tais como (i) as crianças, jovens, adultos e velhos; (ii) homens e mulheres; (iii) héteros e gays, (iv) cariocas e não-cariocas; (v) com maior e menor nível de escolaridade, entre outros, através das suas características particulares, podem ser explorados com máxima eficiência, garantindo satisfação para esses grupos sociais alvinegros e receitas para o clube.

6.4.3 – INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO

Assim como na exploração de mercado, aqui também a segmentação do mercado é essencial para se saber qual o melhor instrumento para se chegar ao torcedor do Botafogo e criar essa ponte Botafogo-botafoguense.

Para se chegar às camadas mais populares, uma rádio-Botafogo é essencial. Não precisa necessariamente ser uma estação, pode ser um programa mesmo, mas que fale só de Botafogo ou que fale sobre outros fatos, mas sob a perspectiva do Botafogo.

A mesma coisa na TV Botafogo. Nesse caso, é recomendável que o clube tenha o seu próprio canal de televisão, ainda que no começo seja transmitido só pela internet, através do site do clube.

Sobre o site, eu quero trazer um exemplo: o site do Liverpool, da Inglaterra.

Entrar no site do Liverpool é uma incrível experiência de como o site do Botafogo deveria ser. É um site visualmente moderno, e só na página inicial confere-se: (i) um calendário com todos os jogos do clube, inclusive os dos reservas e dos juniores, além dos aniversários dos jogadores, comissão técnica e diretoria; (ii) notícias em destaque; (iii) informações completas da próxima partida, ficha com comentários da última partida, e fichas dos jogadores; (iv) produtos em oferta na loja virtual do clube; (v) links em destaque para escolinhas e torcidas organizadas; (vi) patrocinadores e (vii) a programação da Liverpool TV.

Além disso, nos links mais acima, pode se ver absolutamente TUDO sobre o clube: história, estádio (com tour virtual), clube (com tour virtual), notícias, informações de ingressos, informações de ingressos e excursões para jogos fora, material completo do time e dos juniores (em breve do time feminino também), fórum de torcedores, lista de organizadas, entre outros. Eu provavelmente ficaria aqui o dia inteiro e não conseguiria esgotar tudo o que consta no site.

Por que não chegarmos nesse nível de excelência?

Quero dar destaque também ao Liverpool TV. É uma TV virtual que passa Liverpool o dia inteiro. Passa no canal jogos históricos, jogos dos reservas e juniores ao vivo, mesas redondas, jornal do Liverpool, programa de entrevistas sobre Liverpool, documentários e filmes sobre o clube e jogos históricos, sobre grandes jogadores, programas falando mal do Manchester United, entre outras.

Que tal um Botafogo TV nesses moldes, mas falando mal dos nossos rivais (nunca co-irmãos) ao invés do Manchester, claro?

O site do Liverpool é o canal de comunicação definitivo com o seu torcedor, com perfeito feedback de tudo o que o liverpudlian precisa e tudo o que o Liverpool pode oferecer.

Quando o site do Botafogo chegar nesse nível, a interação entre o Botafogo e botafoguense será tão grande que qualquer pesquisa de mercado poderá ser feita dentro do site e o Botafogo terá plena consciência das necessidades do torcedor, podendo dispor de serviços nos moldes que o seu torcedor quer. Uma comunicação limpa e sem interferência.

6.4.4 – EXPOSIÇÃO DA MARCA NA IMPRENSA

A contratação de uma assessoria especializada, juntamente com a melhoria da imagem do clube e a aplicação dos postulados desse trabalho já são de grande ajuda para ampliar a participação do Botafogo na mídia, desde que, é claro, os resultados apareçam. Com isso, cria-se um círculo virtuoso em que o clube e seus patrocinadores só têm a ganhar, principalmente com o retorno de mídia espontâneo.

6.4.5 – SIMPATIA JUNTO AO PÚBLICO E À MÍDIA

É imprescindível que o Botafogo imediatamente se engaje em campanhas sociais para atrair a simpatia do público e da mídia, e até mesmo de nossos rivais, além dos governos nos seus variados níveis (municipal, estadual e federal).

Visitas de jogadores a escolas, hospitais e campanhas de doação de alimentos, roupas e sangue são excelentes pontos de partida.

Com uma forte campanha de simpatia do público, até mesmo tradicionais inimigos do clube passariam a ter freios naturais quando conspirassem contra nós, pois a opinião pública tenderia a nos proteger um pouco mais.

6.5 – CONCLUSÃO

Esse capítulo é outro daqueles que se pode escrever por horas e ainda se tem a impressão de que não se falou tudo. Também não é um artigo definitivo, pois não sou um profissional, sendo apenas um leigo curioso que lê mais do que deveria. O intuito desse capítulo foi realmente traçar um plano geral de como deve ser o marketing esportivo do Botafogo e espero que, futuramente, ele possa ser aperfeiçoado por profissionais competentes e implementado com competência.

O próximo capítulo, que é uma consequência desse, é a relação Botafogo-Torcida.


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Total: 15 comentários



02/03/10@22:40

Como sempre, estou cansado demais para revisar. Quem encontrar erros ou alguma coisa meio deslocada, me avise por favor, no e-mail.

Abraços para todos.



03/03/10@09:24

parabéns kosh,

uma das raras exceções q ainda me fazem vir dar uma olhada no canalbotafogo!



03/03/10@09:56

Muito bom! Será que alguém da diretoria leu? Aliás, eles sabem ler?



03/03/10@11:16

Parabens Kosh...No proximo projeto sócio-torcedor voce sera o meu escolhiado a presidente.

Brilhante!



03/03/10@12:55

Kosh,

que pena que quem manda em GS não o utiliza para alavancar recursos. Parabéns mais uma vez.

Um colossal abraço.



03/03/10@14:35

Se vc é leigo, imagina se não fosse?
O único erro que vejo, foi vc não ter escrito isso há mais tempo. Parabens.
Isso só comprova que basta ter boa vontade para apresentar idéias inovadoras que podem transformar o Botafogo em uma potência.



03/03/10@15:34

Olá kosh...
Cara, parabéns pelos textos...
Perfeito, vocÊ aqui desperdiçado e o imbecil do André Silva nos fazendo perder um patrocinador por ter a língua grande demais..
Gostaria de participar dando sugestões e ouvindo mais idéias suas...
Grande abraço...



03/03/10@17:20

A questão é a seguinte, o marketing do clube deveria ser muito valorizado. Não podemos mais admitir dirigentes amadores no cargo. O clube tem que pegar um grande estrategista de marketing do mercado, pagando a ele um bom dinheiro, atrelado a metas financeiras, para que ele traga para o clube um aumento sustentável de receitas.

LOG


03/03/10@23:07

Mais um excelente artigo. Quem sabe um dia essas ideias possam ser implementadas no nosso clube.



04/03/10@01:23

kosh,
parabéns,seu texto é perfeito e mostra o quanto nossa diretoria é incompetente,principalmente nesta area,continue nos brindando com suas colunas e idéias.
um abraço.

obs.concordo tambem com o comentário do mesquinez.



04/03/10@09:57

Quem se interessar mais por este assunto, na Universidade do Futebol há uma entrevista com o diretor de Marketing do são paulo, Adalberto Batista.

www.universidadedofutebol.com.br



04/03/10@10:01

Parabéns, Kosh, pela propriedade dos seus argumentos. Falta maior participação propositiva dos torcedores no destino do Fogão.

Boa parte da torcida alvinegra apenas critica, mas não comparece aos estádios, não é sócia, nem compra produtos do Botafogo.

Vamos ajudar a resolver os problemas do Fogão. A gente desconhece a força que tem.



06/03/10@05:58

Parabéns, Bernardo.
Devemos reunir estas cabeças pensantes do BFR e tomar o clube.
Por um Botafogo moderno e gigante.
Maurício L. L.



29/03/10@11:45

Apenas reforçando a brilhante matéria do querido amigo botafoguense:
- Em uma eleição realizada ano passado (2009), o Botafogo foi eleito o escudo mais bonito do MUNDO! Chegaram na final 128 clubes, de 45 paises.
Caso queiram ler a matéria completa segue links: www.esportefino.net; http://visaocarioca.com.br/?p=3489;
Não só a diretoria, mas todos nós botafoguenses deveríamos saber e nos orgulhar disso e fazer com que fosse mais divulgado na mídia televisiva (Rede Globo) e não apenas no meio virtual.
Isso é para ser amplamente explorado pela Diretoria, que talvez nem tenham conhecimento dessa pesquisa. Dá para ganhar muitos torcedores, adeptos, simpatizantes pelo mundo afora, e dá para ganhar muito dinheiro com isso também.
Já enviei essa matéria para o Depto de Marketing do Botafogo, mas não recebi nenhum comentário e nem vi nada ser feito a respeito.
Se vocês puderem enviem também. Isso tem que ser divulgado.
Só mais uma coisa: imaginem se o Flamengo tivesse sido eleito? Imaginem o inferno que seria aturar os tricolores, caso o Flu tivesse ganho essa eleição?
Saudações Botafoguenses.



06/07/16@16:23

Kosh!! Vim reler esses artigos e vi que ainda faltam os capitulos VII ao X. Vc chegou a escreve-los na época?

 


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