Vou na contramão de todos que estão aqui discutindo nomes de treinadores (ou seriam “treineiros”, ou “boleiros”, mesmo?), como se isso fosse o mais importante para o clube subir de patamar no futebol brasileiro.

Para mim, tudo isso não passa de discussões sem nexo, sem futuro algum, quando todos sabem (e ninguém aqui é criança para negar o fato) que mais importante do que esse tipo de “reunião reunida para se discutir o que vai ser discutida na próxima reunião que haverá na mesa de bar” é encontrar alternativas para modificar essa cultura amadora em que o Botafogo se meteu.

Ou alguém acha, por acaso, que essa mentalidade vamos ajudar o clube a sair da crise? A realidade é uma só: independente de quem seja o contratado, nesse momento, qualquer dinheiro que não vá para o investimento em jogadores é dinheiro desperdiçado. Os demais cargos na estrutura administrativa do Botafogo sofrem tanta ou mais pressão, interna e externa, de conselheiros metidos com a gestão do time e da imprensa esportiva, para que não se gaste demais com eles. E isso não acontece apenas no Glorioso. No futebol brasileiro, funções como diretor financeiro, comercial e de comunicação são ocupadas por amadores. As cúpulas dos times ainda resistem à ideia de contratar profissionais ou a tratar quem exerce esses cargos como peças fundamentais para o sucesso dentro de campo.

Com o que os torcedores deveriam se preocupar é abrir canal de debates relacionadas a questões estruturais do clube, coisas mais importantes e – só para citar um pequeno exemplo – nunca é demais lembrar quem em termos gerenciais (algo muito mais estratégica para sanar as finanças do Botafogo do que aprovação do treinador “A” ou “B”) existe muita gente sem remuneração que, mesmo quando age bem intencionada, precisa dividir o tempo entre as obrigações no clube e uma outra ocupação que dê renda de fato.

Até respeito quem pensa o contrário, mas penso que seria mais interessante se estivéssemos aqui “queimando neurônios” para mudar a cultura do atraso que existe em General Severiano, pois o prevalecimento do atraso na gestão do clube cria castas, tamanha a desigualdade salarial entre as pessoas que trabalham na instituição. No Botafogo, existem contratados ricos, que estão dentro de campo. E há contratados pobres, que organizam e gerenciam o espetáculo esperado pela torcida sofrida.

E olhem que estou falando do Botafogo, um dos pouquíssimos times da elite, e não das centenas de equipes que trabalham em condições precárias e proporcionam a seus empregados, atletas ou administradores igual precariedade.

O que quero dizer com este meu “protesto de teclado”? Simples: O Botafogo faz parte de um sistema equivocado, injusto, mas que persiste em existir e que se resume no seguinte fato: quanto mais o clube fatura, maior se torna a disparidade interna. Por mais que consiga aumentar seus faturamentos para a casa dos “trocentos” milhões por ano, as estruturas de remuneração e trabalho dos poucos profissionais que carregam o clube nas costas continuarão a se comparar com as daquelas pequenas empresas familiares.

E isso ocorre porque vivemos “no mundo da Lua”, ou seja, agimos fazendo de conta que treinadores não pertencem ao pequeno rol das profissões na administração do futebol que não podem ser comparadas com outros setores dentro do clube. Até parece que um clube de futebol consegue existir comandado apenas pelo treinador “A” ou “B”; até parece que o Botafogo não precisa de preparadores físicos, auxiliares técnicos ou preparadores de goleiros...

E nem estou citando outra realidade cruel: No Botafogo funciona assim o gerenciamento: A gestão é entregue a um Presidente que toma conta de todo o clube, juntamente com os diretores financeiro, comercial e de comunicação. Claro que isso nunca vai dar certo. Não funcionará nunca, pois não sou criança para acreditar num sistema falido de administração de um clube de futebol que não consegue trazer gente do mercado para trabalhar no time.

Não posso sonhar com dias melhores para um clube que não consegue contratar um profissional está empregado numa grande empresa (Alpargatas, Unilever, Coca-Cola, Brahma, por exemplo) para levá-lo a trabalhar  num clube de futebol em que a área é pouco valorizada, o salário está arriscado a atrasar e que, com toda a certeza, esse executivo sairá quando mudar o presidente.

Esse é o ponto: Não vou, não quero, recuso-me a discutir quem é o técnico, mas o que o clube deveria fazer para abandonar o amadorismo que o leva a fazer parte de um sistema errático, persistente e vicioso, cujo resultado é por todos conhecido: Levado pela cultura persistente do amadorismo e do veto à condição de pensar em lucratividade, durante anos a fio, o clube continue a “ser tocado” por profissionais de segundo escalão em setores que não entram em campo e não faz gol, mas levanta dinheiro por meio de patrocínios para pagar os salários de quem entra e faz, o jogador de futebol.

Sinto muito, mas como diz o ditado, “estou me lixando” sobre quem será ou quem já foi contratado. Joel Santana, Cuca, Tite, Guardiola, Jair Ventura, Belzebu, o Estopô Balaio ou até o Mefisto, o Cabrúnculo, para mim, todos profissionais metidos num mesmo balaio e que, cedo ou tarde, quando dispensados, com o vínculo contratual rompido, baterão à porta do Judiciário para reclamar penhoras de seus polpudos salários atrasados ou não pagos.