O assunto é polêmico e rende um bom debate. Depois de discutir quem fica do elenco atual e preparar uma lista de possíveis reforços, é hora de falarmos sobre um posto importantíssimo - o de técnico do Botafogo em 2016. Ricardo Gomes, atual dono do cargo, está longe de ser unanimidade para a torcida. A pergunta mais repetida nas últimas semanas, com certeza, é "será que ele aguenta uma Série A?"
Diante disso, antes de emitir uma opinião, é necessário estudar o mercado. No momento atual do futebol, a mão do técnico é fundamental - algo que se confirma diante do brilhante trabalho de Tite à frente do Corinthians. Em contrapartida, é notório que não estamos em condições de bancar um nome de ponta; saber aliar as capacidades de um técnico às suas necessidades também é importante.
Usando tudo isso para filtrar as possibilidades realistas, o nome que encabeça a lista é Guto Ferreira, o popular Gutiola (ou, mais "carinhosamente", Gordiola). Fugindo dos figurões que insistem em tentar a profissão na base do "vamo que vamo" - alô, René Simões! -, sai na frente quem busca quem inova com competência. Alegarão que seria uma aposta de risco. Mas, no fim das contas, na situação do Botafogo, quem não é?
1) Capacidade de trabalhar com recursos limitados. É notável a capacidade de Guto em fazer rodar times com investimentos escassos. Mudou completamente o panorama da boa Chapecoense, reviveu a época de "Barcelusa" na Portuguesa e fez excelente trabalho na Ponte Preta, sendo injustamente demitido após figurar entre as primeiras posições.
2) Conhece bem o mapeamento do mercado. Já que não podemos confiar muito em Antônio Lopes e cia. em termos de montagem de um elenco competitivo e homogêneo em nível de Série A, a participação do técnico no processo seria de grande valia para o nosso planejamento, visto que ele conhece muito bem os jogadores de custo mais baixo, fugindo dos medalhões.
3) Padrão de jogo e esquema bem definidos. Quem acompanhou jogos da Ponte, no primeiro semestre, e da Chapecoense, no segundo, pôde ver um padrão de jogo forte e um esquema consistente. Extraindo o melhor de cada jogador em suas posições, é importante ter definidas as funções que você pretende desempenhar para, assim, poder buscar os nomes certos.
4) Momento ideal para o casamento. O sucesso de Guto Ferreira, por enquanto, se resume a times pequenos e médios. Após estar, mais do que nunca, em evidência nesta temporada, é hora de voos mais altos em 2016 - assim como o Botafogo, que sonha com um time competitivo, consistente e que não passe perrengue. É o momento mais importante para o início da reestruturação do Botafogo.
5) A nova era de técnicos estudiosos. Em permanente evolução, Guto Ferreira mostra que estudar as novidades de um futebol cada vez mais dinâmico é uma prioridade em sua carreira. Seria o primeiro passo para a tão sonhada profissionalização do clube.
6) Necessidade do momento do Botafogo. Além de não termos capacidade financeira de buscar um técnico de ponta, talvez essa não seja a nossa necessidade neste momento. Embora Levir, Muricy ou Cuca tenham maior aceitação em qualquer torcida, o momento é de buscar quem saiba fazer muito com pouco. Ou seja, o Botafogo precisa de um treinador que consiga uma campanha consistente, na metade de cima da tabela, tendo um material humano bastante limitado - casos de Guto, Doriva e Nelsinho Baptista, por exemplo.
Ricardo Gomes
Não sou oposição do nosso técnico, como era com René Simões. No entanto, apesar de ter conquistado o acesso de forma tranquila, Ricardo nunca fez o Botafogo apresentar um padrão de atuação. Oscilamos muito e, em alguns momentos, senti o treinador um pouco perdido - seja no desenho tático da equipe ou mesmo na escalação do time titular. Jogadores sem função em campo, como Camacho, e a falta de cobertura pelas laterais me deixam severamente preocupado com a disparidade técnica entre os adversários que superamos e os que vamos enfrentar em 2016.
Sou fã de Ricardo pela sua superação pessoal, mas não acho que isso deva afetar a minha avaliação técnica - algo que ele mesmo frisou em sua apresentação. Fazer nossas escolhas baseando-se apenas no resultado é raso e perigoso demais, assim como não acredito que devemos nos pautar por uma gratidão exagerada. Não creio que Gomes consiga entregar o intenso trabalho que precisamos para sobreviver ao duro salto de qualidade que enfrentaremos na próxima temporada. Não se esqueçam que Carleto, Camacho e Luís Ricardo foram suficientes para sobrarmos na Série B.
Agradeço a ele pelos serviços prestados e desejo toda a sorte do mundo na carreira, mas enxergo que precisamos dar um salto de qualidade. Diante de nosso orçamento e nossas necessidades, não vejo um nome melhor que Guto Ferreira. Por isso, desejo que o Gutiola venha ser feliz em General Severiano em 2016!