A audiência do futebol na TV Globo caiu 22 pontos nos últimos dez anos. A Coca Cola já desistiu este ano de seguir patrocinando o esporte na emissora. Os campeonatos estaduais foram como veneno. Os executivos sabem que os torneios estão obsoletos, não levam a nada, perderam sua razão de ser. E só atrapalham a preparação daqueles que suaram sangue para chegar à Libertadores da América.
Não tem adiantado nem forçar os times grandes a escalarem seus principais atletas. Os jogos contra times de aluguel, montados por empresários, não representam as cidades interioranas. São equipes feitas para durarem três meses. E só.
Os grandes clubes querem se livrar há anos dessa competição de início de temporada. Por comprometimento com os presidentes de federações, preguiça e estúpida defesa da 'tradição', como usar suspensórios, os estaduais têm resistido. Foram diminuídos, enxutos. Mas seguem existindo.
A Copa do Nordeste deu o exemplo. Em 2010, o torneio envolvendo os principais clubes voltou depois de estar cancelado por seis anos. As federações nordestinas pressionaram a CBF. Queriam mais dinheiro. Os estaduais também por lá são fracassado. E a Lampions League voltou a ser disputada com muito sucesso.
O exemplo lucrativo chegou até o 'Sul Maravilha'. A Copa Sul-Minas teve três edições. A última em 2002. A CBF cancelou o torneio interestadual. Não interessava se era mais lucrativo que os estaduais. Mas 13 anos depois, os clubes mineiros, gaúchos, paranaenses e catarinenses decidiram ressuscitá-lo. O que já seria ótima novidade. Mas ganharam dois 'intrusos'. Flamengo e Fluminense.
As diretorias dos rivais históricos se rebelaram contra a Federação Carioca. E decidiram repetir o que o Atlético já faz no estadual paranaense.
Colocar times sub-23.
Para não perder dinheiro, Eduardo Bandeira de Mello e Peter Siemsen optaram por se unir. Disputar, com suas equipes principais, o torneio com mineiros, gaúchos, paranaenses e catarinenses. Foram muito bem recebidos. Receberam formar uma liga independente da CBF. O presidente dela é Gilvan Tavares, principal dirigente do Cruzeiro. E o CEO, executivo maior, é o ex-presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil.
Apesar de 15 clubes já terem aderido à liga, apenas dez querem disputar o torneio em 2016. Atlético, Cruzeiro, Fluminense, Flamengo, Internacional, Grêmio, Avaí, Figueirense, Coritiba e Atlético Paranaense. Os clubes serão divididos por sorteio dirigido em dois grupos de cinco. Jogam entre si. Apenas os dois primeiros se classificam para disputar semifinal e final. Nove datas serão suficientes. O planejamento prevê a competição acontecendo ao mesmo tempo dos estaduais.
O presidente Marco Polo del Nero viu na liga uma rebeldia. E o nascimento de uma futura inimiga da CBF. Mandou divulgar o calendário de 2016. Sem incluir a Copa Sul-Minas-Rio. Quis dar voto de apoio ao presidente da Federação do Rio, Rubens Lopes, brigado com Siemsen e Bandeira de Mello.
Mas a negativa apenas uniu ainda mais os clubes. "A competição vai sair de qualquer jeito", garantiu Alexandre Kalil.
Diante do impasse, chegou a luz aos executivos globais. O que daria mais audiência. Sub 23 do Fluminense contra Tigres do Brasil, Botafogo diante do Macaé. Ou Atlético Mineiro contra Flamengo, Grêmio e Cruzeiro?
A TV Globo se interessou no novo torneio. Seria uma maneira de escapar de mostrar menos jogos desinteressantes nos estaduais. E ainda ganhar mais audiência com confrontos de muito mais qualidade.
Marco Polo del Nero não esperava essa postura da emissora. E por isso, teve de rever sua postura frontalmente contrária à competição. Pediu aos presidentes do Atlético Mineiro, Atlético Paranaense, Flamengo, Fluminense, Cruzeiro, Coritiba e Avaí paciência. Disse que o departamento técnico da entidade vai estudar a viabilidade da competição. Ou seja, encaixá-la em 2016.
O presidente da CBF não é desprovido de inteligência. Ele ouviu que se a entidade que preside não autorizar, os dirigentes vão organizar a competição da mesma maneira. Como Marco Polo está fragilizado com as investigações do FBI que prenderam José Maria Marin, ele não quer confronto.
Mas antes de mais nada precisa agradar quem banca o futebol neste país.
A Globo.
Tudo indica que o torneio deva realmente acontecer.
Com a busca da emissora carioca por mais audiência.
E com Marco Polo tentando sobreviver.
Pior para Rubens Lopes e Eurico Miranda.
Os dois são inimigos de Siemsen e Bandeira de Mello.
E que não queriam o Carioca esvaziado.
Com Flamengo e Fluminense com times sub-23.
Mais um golpe certeiro nos mortos vivos Estaduais.
Outro está sendo articulado.