O clima de Libertadores já está na cabeça do grupo do Botafogo. Mesmo jogadores que não foram inscritos nesta fase mostram um discurso afiado de garra e entrega em todas as partidas. É essa a opinião do experiente Dudu Cearense, que não quer nem pensar em "tirar o pé" no Campeonato Carioca. Confirmado na equipe que enfrenta o Boavista no domingo, às 17h, em Bacaxá, o volante, que atendeu a imprensa em coletiva no Estádio Nilton Santos, garantiu muita motivação para entrar em campo, mesmo que nenhuma das equipes alimente chances de se classificar para as semifinais da Taça Guanabara.
- Eu estou sempre motivado. O jogo mais importante é o próximo. Eu estou defendendo as cores do Botafogo, vou fazer o meu melhor pelo Botafogo. Vou jogar contra o Boavista com muita vontade, como se fosse jogar a Libertadores. Eu sou assim. Botou em campo, estou lá para dar a vida. Eu jogo no Botafogo, não vou jogar meia boca, não existe isso. Temos que fazer o melhor pelo nosso Botafogo. Tem que entrar para ganhar, Botafogo é assim - declarou.
A partida marca um encontro com um velho conhecido do Alvinegro e do jogador: Joel Santana. Foi o folclórico treinador quem lançou Dudu no Vitória. Para ele, Joel é mesmo um "Papai".
- O Joel é um pai para mim. Foi ele quem me lançou. Depois do Mário Sérgio, que já nos deixou, que foi quem me puxou da base. Eu sou grato eternamente ao Joel. Vou dar um abraço nele e minha camisa do jogo com certeza será dele. O Boavista tem jogadores experientes, respeito todos que estão lá, mas aqui no campo, eles que tem que nos respeitar. Somos o Botafogo. Será um jogo duro e que vença o melhor - disse.
O volante contou história curiosa com o técnico nos tempos de rubro-negro baiano. Hoje conhecido pela qualidade técnica e experiência, o ainda menino Dudu Cearense era um "pitbull" do Papai Joel.
- Tenho uma história legal com o Joel. Uma preleção, eu estava começando, ainda não era titular absoluto. Eu era segundo volante. Na preleção, ele falou assim: cadê o meu primeiro pitbull? O Xavier levantou a mão. Aí ele perguntou: cadê o meu segundo pitbull? Ninguém levantou a mão, todo mundo se olhando. Eu levantei a mão e disse: "Eu!". Ele disse: "Gostei!". Me botou para jogar, ganhamos o jogo de 1 a 0 (risos). É um cara vencedor, um grande treinador, uma pessoa fora de série. Tenho respeito, mas domingo é contra ele, então vou defender o lado do Botafogo - contou.
Ainda que o clube tenha partida no domingo, o pensamento é na "decisão" pela Libertadores. Fora da lista de Jair Ventura, Dudu deu sua impressão da primeira partida e projetou o jogo contra o Olimpia.
- Vou falar o que falei para eles: podemos viver esse ambiente o ano inteiro. O dia 22 pode transformar o Botafogo e o nosso grupo de uma maneira diferente daqui para vários anos. Todos vão respeitar o nosso Botafogo de um jeito diferente. O clube já é grande, vai crescer ainda mais. Será um dia histórico, espero vivenciar isso. Vamos para uma guerra e espero sair de lá vencedor. Quando cheguei aqui o time estava na zona de rebaixamento. Quando eu saí do Fortaleza, me chamaram de maluco, porque o Botafogo estava mal. Mas eu falei: "É um gigante". Eu coloquei nas minhas metas chegar na Libertadores. Parece loucura, mas anotei e cheguei - disse Dudu.
Confira a íntegra da coletiva de Dudu Cearense:
Importância de jogar no Carioca
Futebol se faz de ritmo. E ritmo a gente ganha jogando. O treino dá a base, o jogo dá força, ritmo, motivação. Quem vai jogar precisa disso tudo. Jogo é muito importante para o jogador.
Experiência
Eu fico feliz de ajudar mesmo fora de campo. Eu tento de alguma forma passar uma mentalidade vencedora para qualquer um. Não fico empolgado com vitória nem dou desculpa na derrota. Temos jogo importante domingo e outro quarta. Futebol não tem lugar para perdedor. Tem que trabalhar. Os jovens já tem noção disso. Eu cobro de cada um. Um dia eu vou sair daqui, não serei eterno. Mas quero deixar uma semente para frente.
Concorrência pelas vagas na equipe
Nossa disputa é salutar, sadia. O mais importante é o grupo. Coloquei para todos: dia 22 vai ser uma data histórica para todo mundo. Quem está aqui tem que pensar em ser campeão e dar o melhor, mas sempre com respeito. Até brinquei com o Lindoso: dessa vez você não meteu gol, aí eu também não fui para a lista (risos).
Amizade com Joel Carli
Carli é gente finíssima, a gente conversa, brinca, mas o respeito em campo é muito grande. Se não correr, ele acaba com a gente. A cobrança é recíproca, todos são importantes, elenco é ótimo. Quem está aqui tem que ficar motivado.
Lesões e calendário apertado
Falar da parte física é complicado no Brasil porque o calendário é muito curto. Ainda bem que temos um plantel qualificado, é um time grande. Atleta de alto nível está sujeito a lesão. Quem está jogando ou fora. Não tem "meia boca", tem que estar sempre 100%, treinamos muito para estar sempre bem. O tempo é curto, o jogador pode sentir. O importante é treinar bem, fazer o melhor para poder ficar mais forte e aguentar o ritmo. Tem que saber dosar, ser inteligente. Não fico pensando se vou machucar. Eu penso em jogar, fazer o meu melhor. Não penso em coisas ruins, atrai energia negativa. Eu trabalho pra suportar isso, as dores, pancada. São todos titulares, mas só jogam 11, a nossa disputa é salutar, com respeito, eu passo para os jovens: o Botafogo é muito grande, temos que dar sempre nosso melhor
Jogadores fazendo funções diferentes em campo
É difícil falar por outro. Eu tenho a minha opinião, ele tem outra. Se eu não der um passe certo, se eu não der lançamento, se eu não chutar, se eu não fizer o que é importante, serei cobrado. Dentro da equipe tem que ter autocrítica também. Falando do Roger, os atacantes fazem gols, são protagonistas quando fazem isso. Atacante vive de gol e nós temos que estar na retaguarda fazendo o melhor para ajudar eles. Temos que cobrar e buscar o melhor. Claro que o gol é o mais importante, mas o que esses caras estão ajudando é brincadeira. Camilo, Pimpão, Montillo, Roger, quem está na frente melhora a defesa porque corre muito. Se doam pelo grupo. Até por isso estão desgastados, os caras estão correndo demais. O gol aparece mais, mas se pensar o que eles estão ajudando o time, é notório
Cobrança nos mais jovens
Eles amam, meu irmão (risos). Se não gostar, dou porrada (risos). Na minha época não tinha ninguém para falar isso. Pode errar chute, passe, mas se deixar de correr, vai apanhar (risos). Eu quero deixar algo de bom da minha carreira, que foi vencedora, para eles. Passar essa responsabilidade para os mais jovens, minha experiência.