Em 2003, sem alarde, um jovem de 20 anos desembarcava pela primeira vez em General Severiano. Após breve passagem pelo América-SP, Jefferson de Oliveira Galvão chegava emprestado pelo Cruzeiro para ser reserva de Max. Assim como em 2015, a realidade do Botafogo era a Série B. Doze anos depois – intervalados por quatro temporadas na Turquia – o garoto cresceu, tornou-se referência e, acima de tudo, ídolo. Nesta terça, diante do Oeste, um dos maiores nomes da história recente do Botafogo completa 400 jogos com a camisa alvinegra. Décimo jogador que mais atuou na história pelo Glorioso, ele quer mais.
- A meta são 500 jogos. É uma coisa pessoal - revelou o goleiro que, caso atinja o objetivo, ficará atrás apenas de Nilton Santos e Garrincha. Jefferson, 32 anos, tem contrato até o fim de 2017.
A história de Jefferson no Botafogo começou em 2003, o primeiro jogo ocorreu em 20 de setembro daquele ano, no empate por 2 a 2 com o São Raimundo-AM, mas a idolatria demorou a chegar. Até porque o ciclo foi interrompido em 2005, quando o Cruzeiro vendeu o goleiro para o Trabzonspor, da Turquia. Em 2009, na hora de voltar ao Brasil, a prioridade foi do Botafogo, mesmo com o time virtualmente rebaixado. Ao lado de Jobson, Jefferson foi peça fundamental para evitar a queda naquele ano. O status de ídolo, no entanto, veio somente no ano seguinte. Especificamente, na decisão do Campeonato Carioca, contra o Flamengo.
- Foi o jogo que realmente carimbou minha identidade com o Botafogo. Foi quando veio o reconhecimento. Ganhamos do Flamengo, e eu defendi um pênalti do Adriano. Aquele lance foi muito importante para a minha carreira. Até hoje eu saio na rua, as pessoas lembram desse lance e me agradecem. É a minha defesa inesquecível, que mudou meu patamar no Botafogo.
Em quase uma hora de entrevista, na sala de troféus de General Severiano, Jefferson recordou os momentos bons e ruins mais marcantes de seus 399 jogos pelo Botafogo.
Confira os principais trechos abaixo:
Representa minha segunda casa, minha família, minha história, meu sonho. Eu me entreguei totalmente ao Botafogo. Eu não sei se teria esse reconhecimento em outro clube no Brasil. É uma coisa que eu vou guardar para sempre.
Está chegando. A minha meta no Botafogo é disputar 500 jogos. Não para passar ninguém. Cada um teve sua história aqui, cada goleiro teve sua história aqui, como o Manga e o Wagner. Só fiquei sabendo depois que, se completar 500 jogos, só ficarei atrás de Nilton Santos e Garrincha. Mas não tenho essa vaidade. É claro que isso é importante para um jogador. Depois que a gente para, o que fica é o reconhecimento dos torcedores e a nossa história no clube. Mas a meta de 500 jogos é uma coisa pessoal. Depois a gente vê o que acontece.
Quando cheguei na primeira vez ao Botafogo (2003), cheguei para buscar meu espaço. Até porque eu estava com 20 anos e ainda não tinha me afirmado na equipe principal do Cruzeiro. Antes fui emprestado ao América-SP e depois vim para o Botafogo. Cheguei com todo gás, querendo fazer história, dar o meu melhor. Fiquei um ano sem jogar aqui, mas foi bom para amadurecer, adquirir experiência. Conseguimos subir para a Série A e fui campeão mundial sub-20 naquele ano, o que me deu um pouco mais de moral. Em 2004, ganhei a titularidade no Botafogo, mas fui negociado com o futebol turco em 2005. Meu passe, na época, ainda era do Cruzeiro. Senti muita falta do Botafogo, mas deixei claro que, quando voltasse para o Brasil, a prioridade seria total do Botafogo. Foram quatro anos na Turquia, mas eu não tinha nenhum outro clube em mente para quando eu voltasse. Cumpri meu contrato na Turquia até 2009. Quando retornei ao Brasil, não pensei duas vezes e acertei com o Botafogo, que é um clube que me identifiquei muito. O principal é isso. Essa identificação. Isso é o que faz um atleta ter uma carreira de sucesso. E eu me identifiquei muito com o Botafogo.
Quando voltei em 2009, a situação do Botafogo era muito difícil. O clube estava brigando para não cair. Muita gente falou que eu era maluco, mas nunca liguei para isso. Eu queria jogar no Botafogo. Não tinha isso de só querer jogar a Série A. Eu já tinha muita identificação com o clube. Mas só fiz um contrato de quatro meses. As pessoas não me acompanhavam na Turquia. Havia a dúvida como eu estava. Não me incomodei e fiz um contrato curto. E, graças a Deus, no momento em que eu cheguei, o Botafogo conseguiu fazer uma sequência boa e renovaram meu contrato por mais um ano. Conseguimos escapar em 2009 e começamos 2010 muito bem.
Muitos torcedores me paravam na rua e falavam: “Pelo amor de Deus, não podemos perder para o Flamengo mais uma vez”. O Botafogo havia perdido os últimos três Cariocas para o Flamengo. Havia uma pressão muito grande. E a final foi justamente contra o Flamengo. Ali foi um jogo especial para mim. Foi o jogo que realmente carimbou minha identidade com o Botafogo. Foi quando veio o reconhecimento. Ganhamos do Flamengo, e eu defendi um pênalti do Adriano, que foi muito importante para a minha carreira. Até hoje eu saio na rua, as pessoas lembram desse lance e me agradecem. É a minha defesa inesquecível, que mudou meu patamar no Botafogo.
Sou muito frio dentro de campo. Não vejo torcida, não vejo nada. Quando teve o pênalti, me concentrei somente no Adriano. Pela qualidade que ele tinha, tentei desestabilizá-lo um pouco. Fui para o gol, fechei os ouvidos e olhei para ele. Somente para os olhos dele. Eu tinha estudado o Adriano. Eu sabia o ponto forte dele. Esperei o máximo o possível. Sabia que o chute de confiança dele era no meu lado esquerdo. Esperei o máximo que pude e, graças a Deus, deu certo. Fiz uma grande defesa. Foi inesquecível por tudo o que o Botafogo vinha passando nos últimos três anos, perdendo três campeonatos seguidos para o seu maior rival. Aquele jogo trouxe um alívio para todos os torcedores. Entramos em campo sabendo que não poderíamos perder novamente. É um dia que vai ficar marcado para sempre.
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POR QUE DECIDIU FICAR EM 2015?
Primeiro porque eu gosto muito do Botafogo. Sou botafoguense declarado. Sei da minha importância dentro do clube, dentro e fora de campo. O ano de 2014 foi muito difícil para o Botafogo. Posso dizer que foi meu pior momento no Botafogo. Principalmente fora de campo, Não senti obrigação, mas sim gratidão por tudo o que o clube fez por mim. Quis ajudar o clube a sair dessa situação e subir para a Série A. Claro que coloquei algumas coisas em risco, como, por exemplo, a seleção brasileira. Mas nunca duvidei do meu potencial, e sabia que jogar a Série B não iria interferir em nada. Fiz de tudo para ajudar o Botafogo. Se Deus quiser vamos subir e depois realizar o grande projeto que começamos nesse ano.
BOTAFOGO, BOTAFOGO,
UNIÃO:
NO PASSADO, NO FUTURO,
A CADA GERAÇÃO
BUSCA A JUSTIÇA EM CADA JOGO,
BOTAFOGO, TERÁS DE ENSINAR
QUE PARA VERMOS, A TUA ESTRELA BRILHAR
SERÁ PRECISO, CONTRA TODOS LUTAR
A BATALHA, ÁRDUA SERÁ,
MAS COM O NOSSO APOIO
HÁS DE SEMPRE CONTAR
E O SEU “G” DE GLORIOSO É O QUE ASSENTE
QUE DE TODOS OS OUTROS FAZ-SE PRESENTE:
DIGNIDADE, A FIBRA DA TUA LUZ
QUE A SUA CHAMA PULVERIZE OS URUBUS