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  "Apetite digital: qual tamanho do interesse das novas plataformas de transmissão pelo futebol?"

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Garrincha


Em 05/08/2020 às 13:03

 

Apetite digital: qual tamanho do interesse das novas plataformas de transmissão pelo futebol?

A realidade tem esse hábito de ser mais complexa que o sonho
Foto: Marcelo Cortes / Flamengo Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

As recentes transmissões do Campeonato Carioca em plataformas digitais foram saudadas como um marco revolucionário. Cartolas, torcedores, influencers e até o presidente do país comemoraram uma grande vitória dos clubes contra o “monopólio” da Globo. Seria o primeiro passo na direção do futuro do futebol sem intermediário – em que os clubes poderiam receber diretamente de seus torcedores.

Dois Fla-Flus depois... o Flamengo bateu na porta do SBT e entregou a decisão do Estadual em consignação — sem cobrar um humilde real pelos direitos. As experiências no YouTube e na plataforma portuguesa MyCujoo ficaram abaixo da expectativa financeira. A realidade tem esse hábito de ser mais complexa que o sonho. É natural o encanto com novas tecnologias. Mas qual será o tamanho do apetite digital por futebol?

Em 2018 imaginava-se que os monstros do novo mundo —Amazon, Facebook, Google, Apple, Netflix —entrariam numa corrida armamentista que faria os direitos esportivos explodirem. Isso ainda não aconteceu. O Twitter foi e voltou com a NFL. O Facebook, comprou direitos mundo afora (Libertadores, MLB, Liga dos Campeões) mas puxou o freio de mão. O Google já testou alguns direitos em sua “operadora digital” de 80 canais — o YouTube TV — que custa US$ 65 mensais (R$ 345) nos EUA. Mas não investiu em grande liga.

A Amazon comprou um pacote da NFL e outro da Premier League (com 20 jogos) — mas não entrou no recente leilão da Bundesliga. Seu foco parece ser adquirir clientes e testar formatos via Twitch. No mundo pós-Covid-19, os direitos esportivos ameaçam um ajuste pra baixo. Em parte isso se deve ao apetite relativo de nossos queridos monstros. Eles têm dinheiro — mas não parecem ter pressa.

Para serviços de entretenimento, como Amazon Prime e Netflix, esporte ao vivo pode ser investimento pior do que ficção. Futebol quase sempre é um evento local que se degrada com rapidez. A grana investida numa série de mistério turca — que pode bombar em vários países — têm mais retorno potencial do que um Fla x Flu, cujo valor fora do Brasil é baixo e se esvai rapidamente. Lembremos: esse povo trabalha com algoritmos que mapeiam o interesse do cliente o tempo todo.

Facebook e Youtube não precisam de direitos para faturar. Eles adaptaram o modelo ancestral resumido numa imagem do Washington Rodrigues, o Apolinho, comentarista e ex-técnico do Flamengo: são donos de sauna. Ganham dinheiro com o suor dos outros. No caso, com conteúdo dos outros. Se clubes e entidades já entregam bastidores e até jogos em troca de percentual de publicidade... por que pagar? Quem precisa coçar o bolso é quem não sobrevive sem direitos — como Premiere e DAZN.

Nada impede que um clube (ou um bloco de clubes) contrate uma plataforma neutra de streaming (como a que a Endeavor vende para a NBA, NFL e outros) e crie um PPV isolado. Vale perguntar se a conta fecha a ponto de rasgar o cheque de terceiros. A liga mais rica do mundo, a NFL, tem canal e aplicativo próprios — mas sem jogo exclusivo algum — e pacote total só fora dos EUA.

O citado leilão da Bundesliga para as temporadas 2021-2025 pode dar pistas sobre o futuro. A Sky, TV por assinatura, abocanhou cinco dos sete pacotes à venda (337 jogos exclusivos). A DAZN levou um, com 106 jogos. A Preben, TV aberta, ficou com nove jogos. O leilão gerou R$ 6,7 bilhões — um pouco menos que o arrecadado na venda anterior (R$ 7,14 bilhões). Resumindo: seis pacotes de TV, um de streaming e retorno algo abaixo do esperado.

A receita das melhores ligas do mundo é idêntica: leilões coletivos com janelas exclusivas — não importa em que plataforma. Até agora nenhuma delas achou boa ideia chutar as TVs. NFL, NBA, Premier League etc entenderam há algum tempo que seu produto (o campeonato — e não um ou outro clube ou franquia) deve estar nas melhores prateleiras. Em algum futuro — não se sabe se próximo ou distante — os clubes brasileiros vão entender que são sócios do mesmo empreendimento.

Jornalista e Diretor de programas e conteúdo digital do Esporte da Globo

 

Tadeu20

Desde 01/2011 • 13 anos de CANAL
Rio de Janeiro/RJ

Garrincha


Em 05/08/2020 às 13:21
 

Quando acabar a modinha, verão que ninguém paga tanto quanto a Globo.

 
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