Reinaugurada há duas semanas, a sede do Mourisco Mar, destinada ao treinamento dos esportes aquáticos do Botafogo, já é protagonista de uma polêmica. Apenas dez dias após a reabertura, foi detectado um vazamento na piscina olímpica, que teve de ser esvaziada para a retirada de parte dos azulejos. A obra de revitalização, de dez meses de duração e orçada em R$ 1,5 milhão, foi feita pela Sertenge, empresa que tem como um de seus diretores e sócios o vice-presidente de patrimônio do clube Francisco Fonseca.
Esta não é a primeira vez que a Sertenge promove obras no Botafogo. As reformas da sede de General Severiano, ocorrida em 2009 e orçada em torno de R$ 2,3 milhões; e do estádio de Caio Martins, que custou, em 2003, R$ 700 mil ao clube, também foram executadas pela empresa de Francisco.
Somando as três obras, um total de R$ 4,5 milhões foi destinado à construtora. Embora não haja ilegalidade no ato, o fato de as obras serem feitas pela empresa de um dirigente do clube esbarra no terreno da ética.
— Delicado é. Mas depende das circunstâncias. Por exemplo, a reforma de Caio Martins foi feita em dois meses e paga pelo Botafogo em três anos. Que outra empresa aceitaria fazer a obra nessas condições? – indaga Francisco.
O vice de patrimônio, Francisco Fonseca, entre o presidente Maurício Assumpção e o diretor-executivo Sérgio Landau Foto: Reprodução
Por esse motivo, diz o vice de patrimônio, o Botafogo não abriu licitação na reforma do estádio de Niterói. Já as de General Severiano e do Mourisco Mar passaram por licitação. Quem licitou e pagou a primeira obra foi a Petrobras. Já no caso do Mourisco, o diretor-executivo do clube Sérgio Landau explicou que pesou a favor da Sertenge o fato de ela ter vencido a licitação para a construção da churrascaria inaugurada embaixo da piscina.
— Na medida em que ela já havia sido contratada pela (churrascaria) Fogo de Chão, ela pôde fazer um preço melhor. O engenheiro foi o mesmo da outra obra, assim como o mestre de obras, e por aí vai. As outras empresas teriam que trazer tudo novo.
Já a piscina olímpica do clube, que trouxe à tona toda a história, terá que permanecer vazia por, no mínimo, 30 dias. É o tempo para a manta de impermeabilização — a culpada pelo vazamento, segundo Francisco — ser trocada e a piscina ser enchida para teste. Caso não haja mais vazamentos, ela será novamente esvaziada para a colocação dos azulejos e, enfim, receberá a água com a qual será reaberta.
Os prejuízos foram consideráveis, já que encher uma piscina de capacidade para 2,5 milhões de litros custa R$ 50 mil. Segundo o clube, os R$ 100 mil que serão gastos com água nos próximos dias, além do serviço de troca da manta, serão pagos pela empresa de impermeabilização. Além disso, a piscina receberia o Estadual Juvenil de natação no último fim de semana, mas o evento foi cancelado às pressas e remarcado para o Parque Aquático Maria Lenk.
Vice: ‘Acha mesmo que eu preciso levar por fora?’
Segundo Francisco Fonseca, o vazamento deve ter ocorrido na colocação dos azulejos, já que, na primeira vez que a piscina foi enchida, não houve indício de infiltração. O dirigente rebate acusações da oposição de que a sede foi reinaugurada às pressas por razões eleitoreiras.
— Quem conhece o assunto sabe que é possível haver vazamento numa manta asfáltica. Durante a reforma do Mourisco, foi feita a impermeabilização com manta. Depois de pronta, ela apresentou vazamento, que está sendo corrigido pela empresa de impermeabilização.
Conhecido no clube como Chicão, o dirigente está no Botafogo há 15 anos. Antes de se tornar vice de patrimônio, na gestão Maurício Assumpção, era vice de esportes aquáticos. O fato de sua empresa fazer as obras do clube é visto em General Severiano como benfeitoria.
— Já entrou no site da Sertenge? Viu que estamos construindo o hotel do Eike Batista? A empresa tem faturamento anual de uns R$ 40 milhões. Acha mesmo que eu preciso levar por fora nas obras do Botafogo?