DE BOTAFOGUENSE E LOUCO...

Eu não conheço ninguém que tenha “verdadeiro” ódio pelo Botafogo. Eu até acho que o Botafogo é o segundo time de todo mundo! Nunca vi ninguém dizer que o flamengo, o Fluminense ou o Vasco fosse, só o Botafogo (e o América).

E não venha com esse papo de que o Botafogo não faz mal a ninguém porque o clube da beira da lagoa não comemora aniversário até hoje por causa daquele famigerado 6x0 no dia 15/11/1972!

Talvez esse carinho pelo Glorioso venha dos tempos do nosso grande “Mané”, as pessoas iam ao estádio só pra ver ele jogar!

Por exemplo, você já ouviu algum diálogo desses?

- Você vai ao Maracanã? Mas o seu time não joga hoje...

- Amor, eu vou pra ver o Zico jogar!

Não, isso NUNCA aconteceu, e o mesmo se aplica a Rivelino e Roberto Dinamite!

Mas um dia, um “anjo de pernas tortas” esteve entre nós e cativou o mundo inteiro com seu jeito inocente de ser! Sobre ele, certa vez escrevi:

“Manuel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha ou simplesmente “Garrincha” foi um jogador de futebol que não era bem destas cercanias. Seria uma insanidade afirmar que ele fosse de outro planeta - Mas deste, com certeza, ele não era! Durante sua existência espalhou alegria por onde passou. Existe literatura farta sobre ele e os pormenores são dispensáveis. Mas como acredito na sua origem angelical, preciso apresentar dados que sejam consistentes para que esta teoria seja apresentada como verdade. Dentro desta linha de raciocínio místico, celestial, existe o fato irrefutável de que ele vestiu a camisa 7, e a eternizou! No clube que defendeu e na seleção Brasileira, o camisa 7 virou sinônimo de vitória, mas também de alegria! O mundo queria ver Garrincha, mas Garrincha não se importava com o mundo. Parecia mesmo não fazer parte dele.”

Garrincha foi único! E proporcionou a toda uma geração cultivar um certo carinho pelo Botafogo.

Mas tem ainda o lado “louco” de gostar do Botafogo... O lado folclórico e místico, que foi introduzido pelo velho Carlito Rocha, que não deixava as cortinas da sede de General Severiano ficarem amarradas em dia de jogo, sob pena de ver o adversário vencer as partidas. E acredite, dava certo! E a coisa era tão séria que tinha um funcionário encarregado de experimentar a comida do Biriba, pra ver se estava envenenada!

Sobre ele, quem escreveu foi Nelson Rodrigues, em sua crônica “O Deus de Carlito”:

“Chegou, enfim, o momento de fazer de Carlito Rocha o meu personagem da semana. Quer queiram, quer não, ele está atrelado ao fabuloso triunfo alvinegro sobre o Fluminense. E aqui pergunto: - qual teria sido a contribuição Carlitiana para o título? Eu próprio respondo: - Carlito ligou o jogo ao sobrenatural, pôs Deus ao lado do Botafogo e mais do que isso: - pôs Deus contra o Fluminense.”

Talvez as “artimanhas” de Carlito Rocha, a ingenuidade mágica de Garrincha e o conhecimento de uma enciclopédia chamada Nilton Santos tenha influenciado muita gente a torcer um pouco pelo Botafogo.

Mas o fato é que todos nós, Botafoguenses, temos alguma mania para assistir os jogos que acaba contagiando quem está por perto. E talvez a palavra “simpatia” tenha mesmo algo a ver com isso... Bem, eu tenho a minha, que já contei diversas vezes, mas vou repetir porque pode servir de inspiração para as próximas gerações. Não sei qual a sua superstição, mas a minha é a do “Espelhinho” e a receita para assistir jogos do Botafogo pela TV é essa:

1)      Entre no quarto, ligue a TV e apague a luz;

2)      Coloque no canal que vai passar o jogo;

3)      Tire o volume por completo ou acione o botão MUTE;

4)      Deite-se na cama, se cubra e vire para a parede;

5)      Finja que está dormindo;

6)      Levante bem devagar o espelhinho que havia previamente escondido embaixo do travesseiro e posicione-o de maneira a assistir ao jogo por ele.

Mas (sempre tem um mas), se o Fogão fizer um gol, não comemore, porque se os deuses do futebol descobrirem a artimanha, em menos de 10 minutos o adversário vira o jogo!

Eu já contei essa história trocentas vezes no Forum do site Canal Botafogo, me divirto muito com isso!

Mas a verdade é que o Botafogo é um clube completamente diferenciado! E nós, torcedores, somos carinhosamente tratados como “sofredores” por nossos adversários, mas eles, todos eles, tem um certo carinho pelo nosso clube! Nunca ouvi dizer que “qualquer um pode ser o campeão deste ano, menos o Botafogo”!

Se eu pudesse voltar no passado, mesmo sabendo de toda a raiva que ia passar, de toda tristeza, da ausência de títulos, de toda a “sacanagem” que vem de dentro da nossa própria sede, sinceramente, não deixaria de ser Botafoguense!

Há um adágio que diz que “aquilo que não te mata, te fortalece”.

Eu aprendi muito com o Botafogo. Ele me ensinou a ser paciente, perseverante, resiliente, apaixonado, esperançoso, teimoso, corajoso...

E principalmente, o Botafogo me ensinou que o futebol é só uma “desculpa” e que embora eu não pertença a nenhuma denominação religiosa, consigo enxergar a figura divina no pentagrama alvo em nosso escudo, carinhosamente oferecendo seu abraço redentor!

Se isso é loucura, sinceramente eu não sei. Mas, é o tal negócio, de Botafoguense e louco, todos nós temos um pouco!

Um insano e colossal abraço do Stemp!