O Botafogo passou por 21 anos de completo jejum. Ouvíamos as torcidas adversárias contar o número de anos sem títulos e cantar "parabéns prá você". Apesar disso, a torcida, bastante jovem e empolgada, nunca deixou de apoiar o time incondicionalmente nesse longo período de trevas.

Trazíamos na memória as glórias vividas na infância - vi o Botafogo ser bicampeão 67/68 com nove anos de idade. Apesar da falta de títulos, tínhamos argumentos para "tirar onda" com os adversários, por exemplo os flamenguistas. O Botafogo era o único time com superioridade de vitórias sobre o rubro-negro e tinha ainda a história dos 6 x 0, que só acabou em 1981. A nossa torcida era a mais empolgada e dividíamos sempre o Maracanã nos clássicos, quando não éramos maioria.

Veio o fim do jejum com o gol do Maurício e os anos 90 foram de novo gloriosos. A Era Túlio marcou e renovação e o rejuvenescimento da torcida, com uma legião de crianças com a camisa 7 "SevenUp" do ídolo. 

A geração de 95 está, em média, com 35 a 40 anos de idade. Desde então, não tivemos grandes glórias, mas muitas frustações - a maldição começou com a perda da Copa do Brasil em 1999 para o Juventude, perante incríveis 102.000 espectadores no velho Maracanã, marca que, se fosse o Flamengo, seria até hoje lembrada como inatingível.

O Botafogo precisa de títulos. De títulos de expressão nacional, como o de 1995, de títulos internacionais e até mesmo de estaduais, que mantém a motivação para "brigar" e requentar a rivalidade com os outros grandes do RJ. A mídia desmerece as conquistas estaduais quando não são do Flamengo. Na minha infância e juventude, o time com mais conquistas do Carioca era o Fluminense. Hoje, o Flamengo se gaba de liderar o número de conquistas estaduais, mesmo o campeonato estando em baixa.

Por ter vivido tudo isso, apesar das evidências tão claras do apequenamento do Botafogo, fico triste ao ver o próprio torcedor debochar do clube. Já basta os inimigos...

Critico os dirigentes incompetentes, os oportunistas. Gostaria de ter a fórmula mágica de resolver os problemas do clube, mas não teria capacidade e competência para lidar com tamanha complexidade. Acho que perdemos a grande chance com o Bebeto de Freitas, que não conseguiu unir o clube (acho que é impossível) e enfrentou todo tipo de boicote nas suas duas gestões. 

Não acho que exista sina. Falta aos dirigentes competência, profissionalismo, seriedade, dedicação, trabalho e união. O mal do Botafogo está dentro do próprio clube, dizia Bebeto. Ele estava coberto de razão.