Ex-vice-presidente de finanças, Bernardo Santoro opinou sobre o atual momento do clube, falou de S/A, de recuperação judicial e de possíveis soluções para o futuro. Em entrevista ao canal “Botafogo Eterno”, ele defendeu a criação de massa falida e de um novo Botafogo, mesmo que signifique queda de divisão.

Para Bernardo Santoro, a Botafogo S/A ou a recuperação judicial, modelos debatidos atualmente, têm risco devido à grande dívida fiscal do clube.

Leia trechos abaixo:

Botafogo pode entrar na Lei de Falências?

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– A princípio não. Lei de Falências é muito clara que apenas sociedades empresárias podem requerer falência. O Botafogo sequer é sociedade com fins lucrativos, é associação sem fins lucrativos. Acabaria tendo que se subsumir ao código civil acerca da insolvência civil. A princípio, não pode falir, pode ser insolvente civil. Qual o argumento em defesa de entrar na Lei de Falências, que é rito muito mais defensor da empresa do que a insolvência civil? É que é já houve cinco ou seis casos na jurisprudência em que tribunais aceitaram que associações civis, por terem atividades muito próximas a atividades empresariais, entrassem. O Botafogo estaria se fiando nessas jurisprudências para ser o sexto ou sétimo caso no Brasil nos últimos 20 anos. Se conseguir entrar nessa lei, tem que fazer todo um projeto para ser votado pelos conselhos de credores. O deságio em cima das dívidas seria muito grande e aí você tem a possibilidade de criar fôlego para quitação. Mas tem prazo para quitação e, o que é pior, um ano para cobrir dívidas trabalhistas. O Botafogo não consegue isso. Se não consegue cumprir, o prazo seguinte é a falência. Se quiser preservar a empresa, tem intervenção judicial.

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O que defende?

– Ou entra no que sempre defendi, que é criar massa falida, vender bens e patrimônios do Botafogo, físico e marca, e coletar determinado tipo de recurso. A última vez que vi a marca valia R$ 180 milhões. Digamos que a avaliação esteja correta, valha isso e os patrimônios valham uns R$ 100 milhões. Tem R$ 280 milhões, coloquemos R$ 300 milhões arredondados. Digamos que a dívida seja R$ 1 bilhão. Você vai quitar o máximo possível de dívida. Liquidou todo o patrimônio e usou no pagamento das dívidas, a massa falida é extinta junto com as dívidas. Quem comprar a marca e o patrimônio terá um novo Botafogo, zerado de dívidas, provavelmente, não tenho a legislação para saber se é obrigado a cair de divisão, lá fora é, aqui não sei. Mas que seja, que venha a cair de divisão. O novo Botafogo nasce sem dívidas, com quem comprou tendo aporte de R$ 300 milhões e com a empresa sendo realmente dona. Teria Botafogo sem dívidas e a partir do trabalho de engajamento social da torcida, gestão da marca e patrimônio, poderia retornar glórias do Botafogo e ter fôlego financeiro para encarar o Flamengo, que é o benchmark de sucesso desportivo e financeiro do Rio de Janeiro.

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– Hoje tem que mirar nisso, derrotar o Flamengo. Passa por ser clube financeiramente saneado. Eu não vejo outra solução que não o rompimento definitivo com esse velho Botafogo e a criação da massa falida, seja via falência, seja insolvência civil para ter empresa nova, limpa e desconectada do velho Botafogo. E extinguir aquele CNPJ com as dívidas que não forem pagas, nos termos da legislação vigente, que traz os credores prioritários. Faz as quitações necessárias, extingue tudo e o novo Botafogo renasce com viabilidade financeira, tendo havido aporte inicial do comprador, junto a massa falida para comprar massa e patrimônio.

– É a situação mais gravosa para o torcedor, gera ônus, de ver o clube mal, combalido, se estruturando, mas me parece que no longo prazo é a única solução viável. As outras passam por S/A ou recuperação judicial, enxugam gelo, tentam pegar dinheiro para quitar com deságio a dívida atual. Mas com o peso daquela dívida fiscal gigantesca que o Botafogo tem prejudica o fluxo de caixa e inviabiliza que tenha folha salarial para dignamente suportar a montagem de time.

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Risco da S/A

– Não estou dizendo que o projeto da S/A é inviável. Mas mesmo que captasse R$ 250 milhões e houvesse gestão financeira das dívidas cíveis e trabalhistas de excelência – porque a fiscal já aderiu o Profut e tem que respeitar – e conseguisse quitar praticamente tudo, ainda assim teria uma dívida fiscal gigantesca. Que está equacionada no Profut, mas está batendo todo mês no seu fluxo de caixa. O Botafogo com receita anual no auge de R$ 200 milhões e com despesas correntes, ignoradas as dívidas, acaba sobrando talvez R$ 5 milhões ou R$ 6 milhões por mês para montar um time, de folha salarial. Isso sem contar o serviço da dívida, que pode fazer essa folha salarial diminuir para R$ 3 milhões ou R$ 4 milhões. Mesmo que tenha aporte gigantesco de recursos, acaba tendo fluxo de caixa prejudicado pelas dívidas que não atacou. Continua em um cenário que não tem pujança econômica para enfrentar o Flamengo, que paga R$ 2 milhões a um único jogador. Vai ficar contando com o imponderável do futebol. Pode dar certo o projeto da S/A? Pode. Mas essa gestão financeira teria que ser muito bem feita, e ainda assim seria prejudicada pela dívida fiscal. Continua não tendo fôlego esportivo para ter o resultado que o Botafogo merece. Vai aguardar mais 20 anos até se resolver toda a dívida fiscal junto ao Profut para poder competir com o Flamengo. Essa é a realidade.

Veja o vídeo do canal Botafogo Eterno:

 

 

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Fonte: Redação FogãoNET e canal Botafogo Eterno