MAIS UMA BATALHA

Acabou. Foi por um triz! Esta batalha foi épica, porque tinha um significado estratégico muito grande. Se viesse a derrota, viria acompanhada do fim de muitas possibilidades, de um sonho, na verdade. Cair para a segunda divisão seria muito mais que uma tragédia – porque cair para a série B já é uma tragédia! Mas o grande problema é que isso iria atrapalhar o projeto de reestruturação do Botafogo.

Mas em meio a esta verdadeira “bagunça” que se transformou a nossa vida, com nervos em frangalhos, com altos e baixos e verdadeiras reviravoltas, uma coisa me chamou atenção nesta reta final: Como a torcida do Botafogo é capaz de sacrificar seus heróis assim tão fácil, como num passe de mágica!

Eu lembro que o nosso primeiro “mascote” foi o Pato Donald. Elegeram ele – não faço a mínima ideia de quem foi – porque ele é irritadiço, se inflama com facilidade, tem pavio curto. O Pato Donald é a cara do nosso torcedor!

E cito este personagem porque ele ilustra bem essa situação bizarra que experimentamos agora, por causa do frango de Gatito Fernandez contra o Inter. Como a torcida do Botafogo consegue pedir a cabeça tão facilmente de um cara que por diversas vezes salvou o nosso clube de goleadas acachapantes? Como crucificar um goleiro que foi fundamental na nossa última conquista tão recente, ainda em 2018?

Eu lembro de uma frase dita por Morpheus, em Matrix:

“Há certas coisas nesse mundo que jamais mudam… e outras que mudam muito”

A nossa torcida – ou parte dela – parece ter estagnado na primeira parte deste adágio. Acho que chegou a hora de migrar para a segunda.

O caso mais emblemático em nossa história envolvendo este aspecto atendia pelo nome de Milton da Cunha Mendonça. Este eterno camisa 8 foi quase escorraçado do Botafogo simplesmente porque não conseguiu dar um título ao Botafogo, como se isso fosse uma obrigação exclusivamente “dele”!

Eu nunca tinha visto uma injustiça tão grande, uma verdadeira aberração levada a cabo por uma torcida que àquela altura, não conseguia distinguir mais nada, não raciocinava, não via as coisas com razão, talvez em função dos muitos anos de ausência de conquistas, o que não se aplica ao nosso atual momento. Nós estamos em 2019, no ano passado nós levantamos o Carioca!

Ok, não é um título de tamanha expressão, mas é um título, nós ficamos 21 anos sem conquistar nem isso...

Então eu me pergunto: Por que será que eu vi parte da torcida responsabilizando Gatito, ao ponto de afirmar de forma incrivelmente bisonha que “se o Botafogo cair, será culpa dele”?

Eu faço este alerta porque estamos chegando num momento em que os irmãos Moreira Salles, tal qual Mendonça, não têm obrigação alguma de fazer tudo pelo Botafogo, mas ainda assim eles farão... Eu até acredito que em 2021 não haverá páreo para o Botafogo, mas 2020 será um ano de transição... E o que acontecerá se não conquistarmos “tudo” já no próximo ano?

Será que vão condenar os Salles? Será que vão novamente pedir a cabeça do primeiro que aparecer pela frente? E se Gatito Fernandez falhar num jogo decisivo, valerá pedir a cabeça dele?

Acho que está na hora da torcida do Botafogo amadurecer, para não ser injusta sempre. E quando digo isso me refiro também ao Barroca. Ele fez um excelente primeiro turno, embora tivesse em suas mãos um elenco pra lá de medíocre! E se no segundo turno o time caiu de produção, a culpa foi dele ou da conta bancária dos nossos atletas?

Uma guerra é feita de muitas batalhas. Umas se perdem, outras se ganham, mas é preciso dar valor aos heróis que se entregam de corpo e alma, e eu vi um goleiro gigante desde que chegou ao nosso clube, um goleiro que soube honrar o legado de Jefferson, de Wendell, Zé Carlos, Borrachinha, Ubirajara (os dois), Manga e tantos outros!

Torcedor anônimo, cuidado para não ser injusto com quem está chegando para revolucionar o nosso clube... Muito cuidado! Porque da mesma forma, eu vi parte da torcida igualmente amaldiçoar um cara que também deu o sangue pelo Botafogo, me refiro agora ao Bebeto de Freitas!

Chegou a hora da torcida do Botafogo evoluir e começar a raciocinar com mais moderação antes de se manifestar pelas redes sociais, porque isso chega até os destinatários e não é de bom tom jogar pedra em quem nos estende a mão.

Não é nem justo...

Um colossal abraço do Stemp