Fórum CANALBOTAFOGO
Tópico de discussão

 
Páginas:
Nicanor Passos
  O QUE SIGNIFICA “NO VACA” PARA O BOTAFOGUENSE

Desde 09/2020 • 3 anos de CANAL
Goiânia/GO

Garrincha


Em 03/03/2021 às 17:00

O QUE SIGNIFICA “NO VACA” PARA O BOTAFOGUENSE                           

Ao retornar para casa, ao final de uma partida do Botafogo, pelo Campeonato Carioca, no percurso que separa o Estádio Nilton Santos (no Engenho de Dentro) à Lapa, onde mora minha filha, também botafoguense, chamou-me a atenção um decalque colado na parte traseira de um automóvel Honda Civic, cor prata metálico, contendo a seguinte locução: NO VACA. Num primeiro momento não dei a menor importância àquela mensagem.

Parado estava diante do semáforo (que insistia reluzir vermelhidão), inerte fiquei, à espera de abrir-se a cor mágica capaz de fazer com que fluísse a fila de automóveis que se avolumavam atrás de mim. Virei-me para o meu lado direito e, qual não foi a surpresa, meus olhos estrábicos se depararam com a seguinte inscrição adesivada num automóvel Corolla: NO VACA.

E à frente da frente do carro que estava à minha frente, uma exclamação: NO VACA. E, ainda, mais adiante do automóvel que se adiantava na fila que seguia antes de mim, outro adesivo advertia: NO VACA. 

NO VACA? Mas, afinal, o que significaria tal expressão? – como bom botafoguense que sou, apanho-me a indagar. Será que o modismo tem a ver com Nesse carro não entra vaca flamenguista”? Ou seria uma espécie de “Fora vaca tricolor”? Nada de vaca cruzmaltina”? Aqui só entra gatinha alvinegra”? Xô mulher feia do time rubro-negro”? Fora vagaba da Gávea”? Quiçá, uma advertência: Nada de mulheres fáceis que não torcem para o Glorioso”? Ou, quem sabe, Aqui só entra botafoguense, de preferência, virgem”? 

Confesso, como em matéria de idiomas, a língua inglesa nunca foi meu forte (fui e sou “um verdadeiro fracasso em inglês” – coisas da minha juventude, quando o chique era ser “de esquerda”, avesso a tudo que se relacionasse ao “Tio SAM” e “dava ibope ser comunista” – ainda que “comuna de butique”), aquela febre de NO VACA, NO VACA, NO VACA..., não saiu-me da cabeça. Quis, em tudo por tudo, saber o seu significado.

Tão logo chegamos em casa tive a “brilhante” idéia: consultar o famoso “pai dos burros”.  Fui direto ao computador e recorri à minha biblioteca digital. Vasculhei a seção de “dicionários”, onde arquivo minha mania preferida: dicionários da língua portuguesa; de inglês, francês, latim, gírias, pedras, flores, peixes, plantas, remédios, música e de tantas outras inutilidades e porcarias mil (coisas de botafoguenses metidos a intelectuais, mas que não passam de “bestiotas” = misto de bestas com idiotas), e, depois de tanta busca, uma decepção: nada de significados relativos àqueles NO VACA, NO VACA, NO VACA..., que, de forma obtusa, continuavam a incomodar-me. 

E confesso mais: consultando o maldito do “Dicionário Inglês-Português e Vice-Versa” que tanto custou-me e a nada me serve (a não ser a mania de querer bancar um intelectual exibicionista), até que encontrei o significado do tal de NO:não” em inglês. Animei-me. Só faltava-me saber, então, o exato sentido da locução VACA. 

Ledo engano. É que “vaca” em inglês grafa-se “cow” (pronuncia-se, com a língua presa, com a boca cheia de ar, “cáu”, se não me engano). Caramba, ponho-me a esbravejar. Não é nada disso! O que quero saber é o significado do vocábulo VACA, ou seja, do inglês para o português, o que significaria tal expressão. 

Passo, então, a procurar. Vou direto à letra V do meu “Dicionário Inglês-Português”: VÊ-A-VA... VÊ-A-BÊ... VÊ-A-CÊ... VÊ-A-CÊ... VÊ-A-CÊ-A...?

Diabos, não tem VACA? A que me serve, afinal, esse malfadado dicionário, se não tem o que procuro? Quer dizer, então, que, do português para o inglês, VACA é COW, mas do inglês para o Português, VACA é algo INEXISTENTE? Pouca miséria de língua! Sempre desconfiei de que esse tal de inglês não passava de um vernaculozinho mixurica! Diante disso, passei a não ter mais dúvida alguma: O inglês não passa de um idiomazinho de merda! 

Fazer o quê? Já sei – Gritei para a outra filha – minha caçulinha, também torcedora do Botafogo: 

“Gardênia!” – grito, acordando a vizinhança, em total desrespeito à “hora do silêncio” que a Convenção Condominial estabelecera para iniciar-se por volta das vinte e duas, clamando por socorro à minha filha de idade “debu”. 

- “O que é, pai?” – respondeu-me já irritada e impaciente. 

- “Ajude o seu papai botafoguense, aqui, meu amor... Veja se você, que sabe inglês melhor que eu, pode traduzir essa expressa NO VACA” – insisti. 

- “Ah, pai, isso tem a ver com SURF. É gíria de surfista. Procure no “Dicionário Ondas”, na Internet”.

- “Mas por que na Internet, filha?” - a resposta veio na ponta da língua:

- Porque, pai, da mesma forma que você  usa determinadas palavras e maneiras para falar com diferentes  pessoas,  como  termos  técnicos no  trabalho, ou para se comunicar com seus amigos que gostam de  futebol,  os  surfistas  também  usam  uma linguagem só deles; e certamente se alguém desavisado "cair de paraquedas" no meio de uma conversa entre surfistas pode encontrar grandes problemas de comunicação. Por isso existe um dicionário que coloca no ar algumas das gírias usadas entre eles para que pessoas como você não fiquem "boiando" quando escutar as suas conversas.

Só, então, caí na real. De duas, uma: ou estou ficando caduco, velho e ultrapassado como o meu Botafogo, parado no tempo, ou não levo mesmo jeito para acompanhar o ritmo acelerado dessa febre chamada “Rede Mundial de Computadores”, “www”, como preferem alguns, ou simplesmente Internet, esse lixão, onde se encontra de tudo que é supérfluo, mas que nos vicia a não mais viver sem ele. 

Dito e feito: acesso o portal de busca “Google” e digito: “Dicionário de Ondas”. Dou um “enter” e logo aparece: DICIONÁRIO DO SURF – A LÍNGUA DAS ONDAS”. Fico pasmado com o que leio: Gírias e expressões usadas pelos surfistas, nomes de manobras, equipamentos, tipos ondas, termos técnicos, histórias dos primeiros surfistas e da evolução do esporte no Brasil e no mundo. Tudo isso está no “Dicionário do Surf – A Língua das Ondas”, de autoria do poeta e jornalista Fernando Alexandre e da ilustradora e artista gráfica Andréa Ramos. O livro foi lançado, no Onbongo Pro Surfing – 36A etapa do WQS, na Praia Mole, em Florianópolis.” 

Continuo a navegar” e descubro: São 1.485 verbetes em 216 páginas, resultado de mais de 5 anos de pesquisas realizadas nas praias, revistas, jornais especializados, livros e, principalmente, nos mais de 15 mil “sites” e “blogs” sobre surfe existentes no Brasil. No livro, o jornalista Fernando Alexandre conseguiu traduzir todo o universo e a cultura do esporte, apresentando informações importantes sobre o mundo daqueles que pegam ondas ou adotaram o estilo surfista. 

A obra também visa a desmistificar a idéia de que surfistas são pessoas alienadas e que possuem um vocabulário pobre. Com linguagem acessível e bem humorada, o DICIONÁRIO DO SURF pode interessar não só aos surfistas, mas também a todo público jovem (e a botafoguenses de meia idade metidos a “Tio Glauco” que, a meu exemplo, insistem manter interlocuções com moças em fases de “Lurdinhas”).

Prosseguindo a pesquisa, encontro os seguintes verbetes: Drop – Primeira manobra que se faz quando pega a onda, que é descer a onda. Vaca - Cair da onda. Vaca - Mesma coisa que wipe-out, tombo”.

Mais um dicionário para a minha coleção.

Diante disso, poderia dar-me por satisfeito: NO VACA expressa o sentido de “não caia da onda”; “não leve tombo”; “esteja antenado”; “não desça na vida”, “seja vanguarda” ou, simplesmente, como dizíamos nos meus idos tempos de juventude, “aprenda a conjugar o verbo na primeira pessoa do singular”. 

Apesar da lição simplista, prefiro minhas conclusões interpretativas às do lexicógrafo surfista. Explicando, uma a uma, tais locuções:

“Nesse carro não entra vaca flamenguista”- Flamenguista ou não, em meu automóvel, prefiro as “vacas” às “desmamadas”. Nesse ponto, estou mais para americano do que para brasileiro: siliconada ou não, mamífero que sou, minha preferência não coincide com a “mania nacional”. “Vaca”, pra mim, a exemplo do que ocorre na Índia, é animal sacrossanto. Sem defeitos. Quanto mais “vacas”, melhor. Portanto, que venha a mim o vosso reino, bendita “vaca” - e que seja feita a vossa vontade. Amém!

“Fora vaca tricolor” Jamais! Isso é coisa de quem torce para o clube de Laranjeiras. Comigo, não! Botafoguense que sepreze não pode se dar ao luxo de desprezar uma boa “vaca” em seu automóvel. Assim, magra ou não, branca, morena, amarela, mocha ou com chifres, não importa. O importante é que seja “vaca”, com muita ou pouca teta, desde que “vaca”. Que entrem, portanto, no meu automóvel, todas as “vacas”. Quanto mais, melhor! 

“Nada de vaca cruzmaltina” Nem pensar! Quero lá saber se a quadrúpede torce ou não para o Vasco? Ao contrário, “vaca” é tudo – e muito mais: É descompromisso na certa; não pega no pé de ninguém; resolve-se com uma simples folha de cheque assinada; não exige fidelidade; dança e rebola como você quiser, conforme o combinado; não te exige andar de mãozinhas no shopping aos domingos; não se zanga se você não lembrar a data do seu aniversário. Presentes no Dia dos Namorados e no Natal? Pra quê? Por que? Afinal, “vaca” é “vaca”, simplesmente por sentir-se bem sendo assim. “Vaca” pode até não mugir, mas dá no couro que é uma beleza! Logo, tudo de “vaca”, independente de torcer, ou não, para o time cruz de malta.

“Aqui só entra gatinha alvinegra” Nem pensar. “Gatinha” dá um trabalho danado! É que, dependendo da faixa etária do dono do automóvel, “gatinha” pode ser sinônimo de “Lurdinha”. E quando isso ocorre, o coitado do motorista passa a ser visto como uma espécie de “Tio Glauco”, ridículo: bancando o jovem, pintando as unhas, querendo ser “metrossexual”, vestindo camisas coloridas, jeans com sapato de cromo e meias Lupo; tentando esconder a calvície que começa a despontar com dois fios de cabelos e coisas desse tipo. Portanto, somente numa hipótese se justifica a expressão: se o dono do carro adesivado com um belo NO VACA for, também, um “gatinho”.  Caso contrário, no máximo, um YES VACA! 

“Xô mulher feia do time rubro-negro” Sou ferrenho defensor do adágio segundo o qual “quem ama o feio, bonito lhe parece”. Isso por si só justificaria minha aversão àquela construção frásica. Demais disso, “mulher feia” é ótimo: sofre de carência afetiva, precisa de colinho toda hora (adoro dar colo à pessoa amada); é dengosa; faz tudo que o homem quer; não te exige presentes chiques, roupas de marca, sapatos de butique, nem jóias que custam os olhos da cara; qualquer lembrancinha comprada na Feira do Paraguai, qualquer imitaçãozinha barata de Chanel nº5 a satisfaz (e quando isso ocorre, minha satisfação vai a mil). Além disso, há uma outra vantagem que “mulher bonita” nenhuma lhe confere: ninguém precisa sentir ciúmes de “mulher feia”. A “feia” é, acima de tudo, exclusiva! No meu automóvel, prefiro um “venha flemenguista feia” a um falso “bem-vindo botafoguense bonita”. É que, além de egoísta, sou acomodado: Mais vale uma “feia” em meus braços do que duas “bonitas” voando, batendo asas por aí!

“Fora vagaba da Gávea”- Imagine! Fora de cogitação! Só quem nunca foi a Salvador, ao Recife, quem nunca curtiu “Carnafolias”, “Axé Music”, quem nunca correu atrás de um Trio Elétrico, onde tem “vagabas” a dar com pau, pode afirmar tal heresia. Mulher “vagaba” é imprescindível; faz parte da cultura nacional: rebola como ninguém, é vulgar na hora certa, não tem etiqueta na hora “h”, embeleza a “Banheira do Gugu” aos domingos, enche os olhos de quem assiste ao Faustão; é Maria “Chuteira” ou “Breteira”, dependendo da ocasião; tem a ingenuidade e, ao mesmo tempo, a candura da Geni cantada em verso e prosa pelo Chico Buarque! Que venham, portanto, todas as “vagabas” a preencher o espaço vazio que existe em meu Zeppelin Dourado. Adoro “vagabas”. Detesto mulheres honestas, chatas. Bom mesmo é cair na “vagabice” numa pista de dança, com todo mundo embalado pelo funk (maravilhoso) de uma boa “Anita”. 

“Nada de mulheres fáceis que não torcem para o Glorioso”- Isso, com todo o respeito, é coisa de homofóbico, pois na horizontal, não existem diferenças clubísticas.  Além disso, mulher, que é mulher mesmo, tem que ser “facinha”, “facinha”. Foi-se o tempo da vovó, quando era o homem quem “cantava”, quem “comia”. No contexto atual, mulher que se preze tem que disputar-me a tapas, exibir-me “toda poderosa” na mesa do bar para as amigas. Nada de dificuldades.    

“Aqui só entra botafoguense, de preferência, virgem” - Pergunte a qualquer moça o que acha do estado de virgindade e a resposta será, no mínimo, uma boa gargalhada. Acho, até, que nove entre dez mulheres de hoje dão a mínima para aquela pele fininha que tantos males lhes faz. Em síntese, “virgem” dá um trabalho dos diabos: é ciumenta, controla torpedos do seu celular, te acha nos lugares mais improváveis, liga a todo momento; fiscaliza a tua rotina; quer noivar, casar de véu e grinaldas brancos; sonha com o macarrão aos domingos na casa da sogra, gosta de novelas mexicanas; é brega, não pratica “babados”; chora quando você não a leva ao cinema do Shopping; gosta de curtir Maiara & Maraisa; assiste novelas das oito; escreve poemas cafonas; possui agendas multicoloridas de decalques floridos; usa roupas cor-de-rosa - um horror! 

Por tudo isso, estou convencido: NO VACA? YES VACA!

E tenho dito!

fidel_garrincha

Desde 08/2012 • 11 anos de CANAL
Rio de Janeiro/RJ

Garrincha


Em 03/03/2021 às 18:12
 

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK MUITO BOM!!!



Botafogo way - A vergonha agora é profissional!! 

 

 

 

Nicanor Passos

Desde 09/2020 • 3 anos de CANAL
Goiânia/GO

Garrincha


Em 03/03/2021 às 22:17
 

fidel_garrincha disse:
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK MUITO BOM!!!
É um dos meus prediletos, também - em razão do humor. Afinal, sorrir não gasta energia.


 
Páginas:

Fórum CANALBOTAFOGO - O Seu portal do Botafogo de Futebol e Regatas