A avaliação mais comum entre os advogados de grandes clubes do Brasil é a de que Andrés Sanchez foi inteligente ao enviar a carta pedindo para não jogar aos domingos e às quartas-feiras à noite. Por mais absurda que seja esta consideração e com a óbvia noção de que isto não vai se concretizar, Andrés tirou o foco da crise financeira do Corinthians, tão presente no noticiário das últimas semanas. Também colocou em discussão um problema que preocupa alguns clubes, depois das ações vitoriosas de Paulo André contra o Corinthians e de Maicon, em primeira instância, contra o São Paulo.
Apesar disto, a avaliação geral é de que o problema não é grande, porque Paulo André e Maicon só ganharam pedaços de causas em que solicitavam adicional noturno e por trabalharem aos domingos, porque havia especificidades nos seus contratos que não constam em outros. "Estes casos não são novos. Existem há mais de quinze a nos e as demandas raramente são vencedoras", diz o advogado trabalhista Carlos Eduardo Ambiel.
Ele também esclarece que a questão dos jogos aos domingos tem uma solução simples: o descanso na segunda-feira seguinte. O problema é que o calendário brasileiro, com jogos decisivos nos finais e meios de semana, muitas vezes obriga a fazer treinos regenerativos no dia do descanso semanal. Mas já houve uma adaptação da lei Pelé, em 2011, que torna os casos raramente vencedores. "A solução é dar o descanso na segunda-feira ou pagar a hora trabalhada desse dia de descanso", pensa.
Andrés Sanchez Corinthians — Foto: Marcos Ribolli
Apesar de não considerarem um problema tão grave, os clubes já cogitaram uma lista negra contra quem faz ações ditas estapafúrdias. Os diretores jurídicos ouvidos fazem questão de diferenciar uma ação correta, por débito de FGTS ou atraso de salário. Estas ações são justas e os jogadores têm de ganhar, quando clubes faltam com seus compromissos.
Outra coisa é defender o futebol publicamente e fazer questão de ganhar dinheiro com "demandas estapafúrdias." Consideram este tipo de ação "estapafúrdia", porque o jogador sonha jogar por grandes clubes, no Brasil ou na Europa, e sabe que as partidas acontecem aos domingos e quartas-feiras à noite. Importante dizer que o advogado de Paulo André diz que o pedido em seu processo foi justamente pelo descanso semanal.
Ninguém admitirá isto publicamente.
Alguns diretores jurídicos argumentam que há casos de atletas ou ex-atletas que pretendem trabalhar em cargos diretivos, mas não pensam duas vezes antes de uma ação deste tipo. Neste caso, cogita-se fazer entender que não haverá emprego em cargos diretivos para quem processou clubes por jogar aos domingos e às quartas-feiras à noite.
"Esta é uma profissão especial e não faz sentido não ter tratamento especial. O adicional noturno é para proteger trabalhadores nesta condição em comparação com outros da mesma categoria que trabalham de dia. No caso dos jogadores, todos jogam à noite", argumenta Ambiel.
Importante entender que a ação movida por Maicon contra o São Paulo foi ganha em primeira instância, mas tem recurso. Também importante lembrar que o principal do processo era o direito de arena e esta parte do processo teve ganho de causa do clube, não do jogador.