Peço licença para divergir do autor do post: o título diz “preconceito tolo”. Ora, parafraseando um forista que eu li acima, “existe preconceito que não seja tolo?” Aliás, o próprio julgamento sobre as obras de Paulo Freire me soa mais como um preconceito tolo, pois se quisermos criticar algo, devemos conhecê-lo bem para apontar as incoerências onde há, a menos que tenhamos lido as obras de Paulo Freire para criticá-las. Será que o autor do post leu alguma obra de Paulo Freire?

Veja bem, eu não sou pedagogo, sou formado em Direito e nunca aprendi nada sobre Paulo Freire, quer seja na escola, quer seja nos anos de faculdade. Fui conhecê-lo quase recentemente, nos idos dos anos 2010, se eu não me engano.

Mesmo não sendo pedagogo, eu acho muito injusto reputar culpa a Paulo Freire no que diz respeito ao nosso péssimo ensino, com desvios de recursos públicos (com roubos até de merenda escolar), com a precarização das condições em sala de aula, com a falta de recursos, com o descaso do poder público com o ensino e a estrutura das escolas públicas. Para quem pouco sabe sobre a história do Paulo Freire, o seu método foi amplamente rejeitado em 1964 e isso segue assim até hoje. O método adotado pelo regime militar foi exatamente a do ba-be-bi-bo-bu, o que foi consolidado com o MOBRAL, seguindo-se as diretrizes dos MEC-USAID que foram implementados no Brasil com a lei 5.540/68.

Foi o método “ba-be-bi-bo-bu” que eu aprendi nas escolas públicas nas quais estudei. Aliás, até hoje esse é o método de ensino utilizado nas escolas públicas e particulares, pois eu procurei alguma escola na região onde eu moro que aplicasse esse tal método Paulo Freire e não encontrei em lugar algum.    

Essa ideia de que o método de ensino freireano é mentira, salvo algumas ONGs que aplicam o método. O que predomina no Brasil é a aplicação do método da escola tradicional — o tal método “ba-be-bi-bo-bu”— com o professor despejando o conteúdo para um aluno-espectador.   

“A escola tradicional é o modelo mais comum nas escolas públicas e particulares brasileiras. Esse formato surgiu na Europa, junto com a criação dos sistemas nacionais de ensino, entre os séculos XIX e XX, mas passou por diversas alterações através dos tempos até transformar-se no que conhecemos hoje. Nas escolas tradicionais, a figura-chave é o professor, que é portador dos conhecimentos e tem a função de repassá-los aos alunos, que os adquirem de maneira cumulativa frequentando uma instituição escolar. A exposição e a interpretação dos conhecimentos são sempre realizadas pelo professor; os alunos devem exercitar o que foi aprendido, repetindo e memorizando fórmulas e conceitos. Esse método é bastante adequado à forma de avaliação utilizada nos vestibulares brasileiros e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Algumas das escolas mais conceituadas do mundo, como as inglesas e estadounidenses, utilizam esse método de ensino.”

FONTE: https://www.infoescola.com/noticias/conheca-os-metodos-de-ensino-mais-comuns-nas-escolas-brasileiras/

“Paulo Freire não está nos currículos das escolas públicas, mas, sim, como referência para aqueles que praticam pedagogia todos os dias. Algumas ONGs aplicam de fato o método freireano. É o caso do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), que existe há 35 anos como “instituição de aprendizagem”, como se autodenomina. ‘Não há e nunca houve incentivo governamental para a aplicação dos ensinamentos e princípios freireanos. Isso se deve à ação isolada e alguns educadores, professores e escolas’, explica Sebastião Rocha, diretor do CPCD.”

FONTE: https://novaescola.org.br/conteudo/12896/existe-metodo-paulo-freire-nas-escolas-publicas

Essa tentativa forçada de encontrar um bode expiatório para culpa-lo pelo fraco desempenho do ensino público brasileiro é uma falácia política criada e usada por um espectro político para atacar o outro. Nada mais do que isso. E uma falácia burra. O problema da educação está mais para um projeto político mesmo, como dizia Darcy Ribeiro. Aceitar essa falácia é cultivar preconceitos tolos, pois seria melhor ler um livro para entender por si mesmo do que aceitar distorções vindas de loucos como Olavo de Carvalho.

Recomendo a oitiva desse podcast, que aborda um pouco sobre a história da pedagogia no Brasil: https://revolushow.com/29-educacao-revolucionaria/

Por fim, partilho da mesma opinião que o autor do post quanto ao preconceito tolo de julgar um jogador por ele ter jogado no Merdengo. Um grande e fraterno abraço! E aproveito para saudar o mestre Ennio Morricone, camarada afiliado ao PCI, e que nos deixou aos noventa e um anos de idade. Descanse em paz, Mestre!