Em semana de clássico, a preparação mental é fundamental, e o Alvinegro anda bem da cabeça e com novas ideias. Sabe aquela máxima alvinegra de que "Há coisas que só acontecem ao Botafogo"? Em 2019, da boca de jogadores, comissão técnica e dirigentes você não escutará. Essa é a busca de Paulo Ribeiro, um dos psicólogos mais importantes do futebol brasileiro e contratado pelo Glorioso em 14 de janeiro.
Com larga experiência no esporte, Paulo tratou de se debruçar na história alvinegra a fim de buscar elementos para influenciar positivamente o grupo de atletas. Disse que, durante seu estudo, impressionou-se com a quantidade de passagens interessantes, mas o tal mantra o assustou.
Paulo Ribeiro — Foto: Fred Gomes
- Uma frase se repetia muito em reportagens que eu pesquisei, em declarações de alguns jogadores. Era uma frase que me assustava, que me deixava incomodado. "Há coisas que só acontecem ao Botafogo". Parei para pensar um pouquinho naquilo e achei que poderia ser uma busca minha por uma nova identidade desse grupo.
- Porque essa frase é predominantemente negativa nesse ponto de vista da emoção.
- Conversei isso com o grupo. Aliás, foi o tema do meu primeiro trabalho com eles, de falar sobre emoção e sobre essa frase. Surpreendentemente, observei que dentro do grupo de jogadores e da comissão essa frase não tem muito eco nem efeito. É uma coisa mais de fora do Botafogo do que de dentro.
- Essa frase leva a gente para algum lugar que reputo que não é legal. Um lugar de baixo, um lugar negativo. Combinamos que não falaríamos mais, nem escutaríamos.
A partir daí, Paulo, pautado num desejo demonstrado por Zé Ricardo ainda em 2018, a criação da "Identidade Botafogo", bolou um novo lema para o atual plantel: "Juntos, somos mais fortes".
- Aí nasceu uma ideia naquele instante de eu criar um lema para aquele grupo. Conversei com a comissão técnica, o próprio Zé Ricardo já tinha pensado nisso no fim do ano passado, quando ele tentou criar a "Identidade Botafogo". São palavras dele. Pensando, comecei a pesquisar novamente sobre Botafogo, vi uma frase que também me chamou muita atenção, mas desta vez pelo viés positivo, que era "Juntos, somos mais fortes".
Confira outros tópicos da conversa com Paulo Ribeiro:
Emoção como ponto positivo nos jogos
No meu segundo trabalho de grupo com eles, montamos um trabalho para falar o que é ser forte estando juntos. A gente criou um Power Point acerca disso e elencou alguns temas. No total, acho que foram 15 ou 16 em volta de uma circunferência apontando para algumas setas.
Fui tentando imprimir nesse grupo uma ideia do que é o comportamento emocional, do que é importante dentro da partida. Tentando explicar para eles que o comportamento emocional não tem nada de ruim nem de menor em se falar de emoção, porque emoção é um comportamento absolutamente normal e que traz para nós bastante resultados positivos.
Controle dos medos
A emoção é para ser eficaz e não uma coisa que vá atrapalhar a gente. Minha ideia é fazer com que eles consigam entender a emoção pelo viés positivo. Disse para eles que o medo não é uma opção. A gente vai ter medo em qualquer situação, mas a grande sacada é saber como lidar com o medo.
Estou discutindo com eles, formulando e construindo uma identidade de fato. De que juntos somos mais fortes. Onde um jogue pelo outro, onde um perceba a dificuldade do outro e vá lá ajudar. A gente está tentando criar um grupo forte de jogadores. O Botafogo tem uma estrutura enxuta, mas que funciona perfeitamente. Fiquei muito impactado com a qualidade de trabalho desenvolvido pela comissão técnica.
Modernidade no monitoramento dos atletas impressiona Paulo
Esses atletas são monitorados desde a hora em que chegam ao clube até a hora que estão indo embora, seja do ponto de vista nutricional, seja da preparação física, da fisiologia, da própria psicologia, da área médica e fisioterapia. São atletas que são monitorados por aparelhos ultramodernos.
Tem uma comissão técnica que de fato trabalha bastante todos esses números que os atletas apresentam para a gente durante os treinos e jogos. A gente também tenta mostrar isso ao jogador, e ele é engajado. Chega cedo na academia para cumprir o que tem de fazer antes dos treinos, tem lanche para lancharem todos juntos. É uma construção de um grupo que acho que apresentou resultados bastante importantes.
Deram uma resposta bastante positiva para nós, não só para a psicologia, mas a todos os segmentos da comissão técnica. Quando monto um trabalho, eu não o faço sozinho. Eu divulgo esse trabalho para a comissão, mostro para o treinador a fim de que eles repliquem essas informações que passo nas palestras. Uma palestra só não vai salvar ninguém. A gente vem obtendo resultados bem bacanas.
Que jogadores mais chamaram atenção pelo equilíbrio e quais você sentiu que precisavam de força?
De cara, os jogadores que mais me chamaram atenção foram Rodrigo Pimpão e Erik. Tive logo um contato mais forte com esses atletas, e o Rodrigo Pimpão é um líder dentro do grupo. Uma pessoa respeitada, com 31 anos de idade. É um garoto muito sério que está ali para somar muito com o grupo. A seriedade dele é impecável. Todas as solicitações que fiz para ele, respondeu prontamente. E o Erik da mesma forma. Estou falando desses dois pontas da equipe para dizer do ponto de vista positivo.
Importância de Diego Souza e como administrar temperamento explosivo do atleta
Na realidade, Diego Souza trabalhou comigo no Flamengo em 2005, e eu já o conheço há bastante tempo. Diego Souza gosta de jogar, gosta de título, é uma pessoa de grupo. Nunca tive problemas com ele. A chegada dele é claro que motiva outros jogadores, até os que não vinham tendo um bom rendimento podem se motivar com a chegada de um craque desses. Já chegou juntando todo mundo e se aproximando de todos. Foram sair juntos. Tá tudo correndo bem com a chegada dele. Levar esse entendimento todo para dentro de campo acho que é fundamental. Os jogadores só têm a ganhar com o Diego Souza e com o que ele pode trazer para a equipe.
Ao ser perguntado dos experientes, Paulo cita "Don" Diego Cavalieri como ótimo exemplo
Cavalieri é um profissional que sempre admirei muito jogando no Fluminense. Eu tinha ele como um grande goleiro e grande profissional. É um dos que, mesmo sendo um dos mais velhos e experientes da equipe, às duas da tarde já está na academia trabalhando. Quando um atleta mais novo vê esse tipo de comportamento, é claro que ele vai querer seguir. Nós sempre vamos precisar liderar pelo exemplo, e o Diego Cavalieri faz isso com maestria. Eu chego a chamá-lo de Don Diego.