História

As complicadas fórmulas matemáticas que o professor Júlio Noronha explicava a seus alunos do Colégio Alfredo Gomes, em Botafogo, não entravam na cabeça de Flávio Ramos, um garoto de 14 anos. Ele vivia com o pensamento longe, numa partida de futebol que assistira há dias no campo do Paysandu, entre Brasileiros e Ingleses. Sentado a poucas carteiras de distância da sua, sempre atento à aula, ficava Emanuel Sodré.

Aquela altura, o futebol já era uma fascinação para Flávio, e a idéia de formar um clube com a garotada que morava no Largo dos Leões e nas ruas São Clemente e Voluntários da Pátria, ocupava toda sua mente. Até porque, um grupo de jovens de Laranjeiras e do Flamengo, muitos deles descendentes de ingleses, havia fundado recentemente o Fluminense Football Club, que treinava e jogava num campinho ao lado do Palácio Guanabara, na Rua Farani.

Um dia, Flávio não resistiu: arrancou uma folha de caderno de álgebra, rabiscou um bilhete e, sem que o professor percebesse, entregou-o a Emanuel. "O Itamar Tavares tem um clube de futebol, que joga na rua Martins Ferreira. Vamos fundar outro? Podemos falar com o Arthur César, o Vicente e os irmãos Werneck. O que você acha?". Emanuel não respondeu na hora, mas a partir daquele momento a vida dos alunos do Colégio Alfredo Gomes mudaria para sempre.

Numa sexta-feira à tarde, precisamente no dia 12 de agosto de 1904, enquanto o Presidente da República, Rodrigues Alves, enfrentava a ira popular por ter decretado a vacinação obrigatória à população do Rio, um grupo de garotos se reunia no casarão do Conselheiro Gonzaga, na esquina da Rua Humaitá com Largo dos Leões.

Mas ainda não seria desse encontro que nasceria o Botafogo, e sim o Eletro Club, primeiro nome do time das cores alvinegras e ainda sem a Estrela Solitária.

Numa reunião seguinte, porém, no dia 18 de setembro, o novo clube seria batizado com o nome definitivo. A avó de Flávio Ramos, Francisca Teixeira de Oliveira - Dona Chiquitota para a família - aproximou-se e perguntou curiosa: "Qual é o nome do clube que vocês fundaram?". Diante de um nome tão sem imaginação, Dona Chiquitota não se conteve e resolveu intervir. "Morando onde moram, o clube de vocês só pode se chamar Botafogo".

Nos dois anos seguintes, apesar de ser alvinegro, o Botafogo jogaria apenas com a camisa de malha branca e só em maio de 1906 é que as listradas em preto e branco, encomendadas a Benetfink & Company, de Londres, chegariam para a disputa do primeiro campeonato Carioca.

As dificuldades não tardariam. O precário campinho da Rua Conde de Irajá já não servia, não atendia mais às necessidades do clube e era preciso encontrar outro, e o Botafogo acabou se mudando para a Rua Humaitá, 52.

Em 1912, depois de voltar ao mesmo terreno na Rua Conde de Irajá e de peregrinar por outros locais, o Botafogo já com o apelido de "O Glorioso" pelo título carioca conquistado em 1910, via-se novamente sem sede e sem campo. No entanto, um comentário ouvido nas Laranjeiras de que o clube morrera, motivou um grupo de botafoguenses a encontrar um novo campo para o time da Estrela Solitária. Acabaram por descobrir um terreno na Rua Gal. Severiano, que pertencia ao ministério da Justiça.

O Estádio de General Severiano foi inaugurado no dia 28 de agosto de 1938, com jogo de estréia contra o Fluminense de Batatais que contava com Moisés e Guimarães; Santamaria, Brandt e Orozimbo; Bioró, Romeu, Sandro, Tim e Hércules em sua equipe. O Botafogo - que se chamava Botafogo Futebol Clube - era formado por Aimoré Moreira, Bibi e Nariz; Zezé Moreira, Martim e Canali; Téo, Pascoal, Carvalho Leite, Perácio e Petesko. Ao final, com dois gols de Petesko e um de Perácio, o Botafogo venceu por 3x2.

O Botafogo Futebol Clube, nascido no Largo dos Leões, iria fundir-se ao Clube de Regatas Botafogo - surgido em 1º de julho de 1894, no Mourisco - no dia 8 de dezembro de 1942. Dessa união, nasceria o Botafogo de Futebol e Regatas de hoje. Das regatas, além da tradição do remo, o Botafogo herdou a estrela solitária, que passou a fazer parte de seu escudo.


Botafogo Football Club + Clube de Regatas Botafogo = Botafogo de Futebol e Regatas

Mas a partir do dia 12 de Agosto de 1977, quando o clube completou 73 anos de existência, o cenário nunca mais seria o mesmo. O Botafogo se mudaria para Marechal Hermes, e no subúrbio nunca mais seria o mesmo, ou, pelo menos, o dos botafoguenses que ajudaram a escrever sua história. Foram 21 anos.. Desde a Taça Brasil em 1968 (o que equivalia ao campeonato Brasileiro daquela época) até 1989, com o gol antológico de Maurício na Final do Estadual, sem títulos de expressão. Daí conquistamos a o Bi Estadual em 1990 e a Taça Commebol em 1993. Até que..


Gol de Maurício na Final do Estadual em 1989: Era o Fim do jejum de 21 anos

Até que o ano mágico de 1995 estava chegando. O Ano da volta a General Severiano. O Botafogo, mesmo com um elenco mediano, foi campeão brasileiro em um título incontestável.


Esquadrão de Ouro: Botafogo Campeão Brasileiro em 1995


Túlio beija a Taça: Campeão Brasileiro!


Donizete, Túlio e Moisés, Campeões Brasileiros em 1995

Em 1996 o Botafogo jogou a Libertadores da América e não manteve o bom nível do Campeonato Brasileiro. Apesar de ter se classificado na 1ª fase, foi eliminado pelo Grêmio nas oitavas, perdendo por 3x0 no Olímpico depois de empatar em 1x1 no Maracanã. Ainda nesse ano, o Botafogo foi campeão da Taça Tereza Herrera batendo o Juventus de Turim numa final emocionante.

No ano seguinte, o Botafogo foi campeão carioca graças a um time unido e um artilheiro talismã: Dimba, que marcava em quase todos os jogos. Em 1998, o título do torneio Rio-São Paulo no empate em 2x2 com o São Paulo no Maracanã depois da vitória por 3x2 no Morumbi.


Gonçalves carrega a Taça de Campeão Estadual em 1997: para lavar a alma

A partir de 1999, uma nuvem negra se instalou em General Severiano. O trágico vice-campeonato da Copa do Brasil, comparado ao Maracanazzo de 1950 para os botafoguenses, somado ao escape do rebaixamento graças a irregularidade do jogador do São Paulo na época Sandro Hiroshi pareciam estar antevendo os tempos difíceis que o Botafogo haveria de passar.

Em 2000 o time passou em branco, e em 2001 a fuga do rebaixamento voltou (já que em 2000, na copa João Havelange, não existiu rebaixamento). Abel Braga salvou o Alvinegro nas últimas rodadas e o Botafogo novamente respirou aliviado: continuava na Série A. Mas até quando? Em 2002, depois de campanha pífia no Carioca, o Botafogo fez uma campanha desastrosa e terminou em último lugar do Brasileirão, caindo para a Série B de 2003.

Em 2003, Bebeto de Freitas assumiu o Botafogo em pedaços. Foge ao escopo desse texto avaliar a administração de Bebeto, porém o Botafogo começou a se reerguer. Com um time unido, obteve a 2ª colocação na segundona e voltou a Série A em 2004, se mantendo graças a um empate heróico em 1x1 com o Atlético-PR, na época candidato ao título, em Curitiba. Em 2005, um 9º lugar no Brasileirão e a classificação para a Copa Sul-Americana.


Gol de Schwenck contra o Atlético-PR: O Botafogo começava a se firmar na série A novamente.

Chega 2006. O Botafogo finalmente conquista um título, depois de 8 anos: o Campeonato Carioca de 2006 após vencer o Madureira por 2x0 e 3x1 nos jogos da final. A estrela solitária, outrora quase apagada, volta a brilhar gradativamente.


Campeão Carioca de 2006: A estrela do Botafogo volta a brilhar